O movimento para aprovar uma anistia que beneficie o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado, perdeu força antes mesmo de chegar ao plenário. Segundo o Datafolha, 54% dos brasileiros rejeitam a proposta — um dado que pesa na calculadora política de Hugo Motta (Republicanos), presidente da Câmara, e dos líderes do Centrão. Motta já sinalizou a aliados que não pretende pautar um “liberou geral” que o coloque em confronto com o Supremo Tribunal Federal (STF) nem arranhe a imagem da Casa.
Resistência entre aliados e governistas
Em meio ao ambiente tumultuado, dirigentes do PL receberam a informação de que Motta resiste a uma anistia ampla. Um interlocutor próximo ao parlamentar reforçou que o discurso é “pacificar o país”, mas que o caminho não passa por um perdão irrestrito. Parte dos líderes da Câmara pressiona para levar o tema a plenário, mas até governistas defendem que a urgência seja votada apenas para enterrar a proposta.
" Eles vão precisar de 257 votos. Não deve pautar, mas se pautar temos que derrotar ", disse o líder do PT, Lindbergh Farias (PT). " A urgência não será pautada, hoje a realidade é esta. Se mudar, vamos derrotar no voto ", completou Zeca Dirceu (PT).
Crise interna no PL enfraquece bolsonarismo
A articulação tropeçou ainda na confusão gerada por Valdemar Costa Neto, presidente do PL, que primeiro admitiu publicamente um plano golpista e, em seguida, negou suas palavras. A trapalhada expôs fissuras na base conservadora e minou a narrativa de perseguição política usada pela extrema direita.
Até aliados como Ricardo Salles e Fabio Wajngarten atacaram Valdemar, enquanto Tarcísio de Freitas (Republicanos) — visto como possível herdeiro do bolsonarismo — teve sua imagem arranhada ao defender uma pauta impopular.
Alternativas tímidas e falta de consenso
Nem mesmo uma anistia parcial, que reduziria penas de condenados pelo 8 de Janeiro, parece avançar. Lula, após almoço com Motta, sinalizou que prefere encerrar o assunto para evitar novos atritos com o STF. No Senado, Davi Alcolumbre (União) testa uma proposta mais limitada, mas não encontra consenso nem no próprio partido.
Fadiga nacional com aventuras golpistas
No fim, a tentativa de transformar o perdão em bandeira política revela o isolamento do bolsonarismo e o cansaço da sociedade com aventuras autoritárias. O recado das ruas e das pesquisas é claro: anistia não deve reescrever crimes nem apagar a tentativa de subversão da ordem democrática. Desta vez, o Congresso parece disposto a ouvir.