A diretora do Setor de Ciências Jurídicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Melina Fachin, foi alvo de uma cusparada e de ofensas verbais ao deixar o campus da instituição, na sexta-feira (12). Filha do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, ela foi chamada de “lixo comunista” por um homem ainda não identificado. O episódio, aparentemente isolado, revela sinais de um clima de tensão política que tem se infiltrado no ambiente universitário.
Ataque com motivação política e contexto prévio de tensão
O agressor não apresentou qualquer reivindicação específica, limitando-se a insultos ideológicos. O advogado Marcos Gonçalves, marido de Melina, atribuiu o episódio ao discurso de ódio difundido por setores da extrema direita. Ele também associou o ataque ao protesto ocorrido três dias antes, quando estudantes impediram a realização do evento “ Como o STF tem alterado a interpretação constitucional?”.
O painel, organizado por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi cancelado após bloqueio do prédio do Direito. Testemunhas relataram que o vereador Guilherme Kilter (Novo) e o advogado Jeffrey Chiquini insistiram em entrar no local, provocando tumulto. A tensão culminou em confronto verbal entre manifestantes e aliados bolsonaristas, e a presença da polícia gerou denúncias de violência contra estudantes.
Indícios de radicalização e riscos à segurança acadêmica
O episódio envolvendo Melina Fachin não é o primeiro caso de intimidação em campi universitários. Nos últimos anos, professores e pesquisadores têm relatado ameaças virtuais e tentativas de constrangimento público por posições políticas ou acadêmicas. O ataque à professora sinaliza que a escalada de hostilidade pode migrar do ambiente digital para ações físicas, comprometendo a segurança de docentes e estudantes.
Reações institucionais e possíveis desdobramentos
A UFPR ainda não informou se abrirá investigação interna ou pedirá apoio policial para identificar o agressor. Especialistas em direito constitucional consultados avaliam que o caso pode configurar crime de injúria e importunação ofensiva à dignidade, além de ameaçar a autonomia universitária garantida pela Constituição.
O Centro de Estudos da Constituição da UFPR classificou a ação como “tentativa de intimidação” e alertou para o risco de “transformar o espaço universitário e democrático em palco de violência e silenciamento ”. Movimentos de direitos humanos e grupos acadêmicos de outros estados reforçaram o repúdio.
Discurso de ódio e estratégia política
Analistas ouvidos pela reportagem apontam que episódios como esse dialogam com uma estratégia mais ampla de intimidação de vozes críticas ao bolsonarismo. A vinculação de Melina Fachin ao STF – onde seu pai tem sido alvo frequente de ataques por decisões contrárias a Jair Bolsonaro e aliados – reforça o caráter simbólico da agressão. A demora na identificação do autor e a ausência de posicionamento mais firme de autoridades locais podem alimentar novos episódios de violência.