Às vésperas de uma provável condenação no STF, o  ex- presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a acionar um dos trunfos mais conhecidos de sua trajetória: transformar problemas de saúde em ativo político. As crises de soluço e vômitos relatadas por seus filhos e o pedido de internação hospitalar não se limitam ao campo médico.

São parte de uma estratégia clara: evitar a prisão em regime fechado e tentar garantir, ao menos, a permanência em prisão domiciliar. Ao transformar sua condição física em argumento jurídico, Bolsonaro busca prolongar o jogo político mesmo em situação de derrota.


O acordo com Tarcísio e o Centrão

A pressão da Justiça acelerou a definição de um novo arranjo na direita. Bolsonaro teria selado um acordo com Tarcísio de Freitas (Republicanos)  e lideranças do Centrão, abrindo mão de tentar reverter sua inelegibilidade em troca da mobilização pela anistia no Congresso. Esse gesto revela uma inflexão importante: Bolsonaro reconhece os limites de sua sobrevivência política e transfere parte de seu capital eleitoral a Tarcísio, em uma espécie de "testamento político" antecipado.

Tarcísio em transição

Para receber essa herança, Tarcísio começa a recalibrar seu discurso. Até então posicionado como gestor técnico e moderado, o governador de São Paulo adotou, no 7 de Setembro, um tom mais agressivo contra o STF, aproximando-se do bolsonarismo raiz.

A guinada não é gratuita: ao se projetar como herdeiro natural da base radical, Tarcísio busca consolidar-se como o nome competitivo da direita em 2026, algo que dificilmente alcançaria apenas com o apoio do empresariado paulista.

O papel do STF e a anistia

A decisão do STF, prevista para esta semana, não se limita a punir Bolsonaro. Ela terá efeito imediato sobre a correlação de forças políticas. Se o Supremo permitir recurso em liberdade, Bolsonaro manterá alguma margem de manobra para se colocar como figura central na narrativa da perseguição.

Caso contrário, a prisão em regime fechado precipitará sua retirada do tabuleiro. A aposta da defesa na anistia é, portanto, uma tentativa de transferir a disputa para o Congresso, onde Bolsonaro ainda conta com aliados fiéis.

Cenários possíveis

O desfecho definirá os rumos da direita brasileira. Se a estratégia da anistia prosperar, Bolsonaro terá cumprido um papel de transição, garantindo sobrevida à sua corrente política sob a liderança de Tarcísio.

Se fracassar, o ex-presidente se tornará um personagem secundário, e o governador paulista terá de se equilibrar entre manter a base radical e ampliar apoios ao centro. Em ambos os cenários, o que está em jogo é a redefinição do campo conservador no Brasil pós-Bolsonaro.


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