Jair Bolsonaro
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A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) não encerra o ciclo de polarização que ele alimentou nos últimos anos. Ao contrário: reacende a disputa institucional entre o Judiciário e setores da direita radical, além de colocar o Congresso no centro de uma nova batalha política — a tentativa de aprovar uma anistia.

Anistia: símbolo político mais que solução jurídica

Para o bolsonarismo, a anistia não é apenas uma questão de aliviar penas. Trata-se de preservar a narrativa de que os condenados de 8 de janeiro são “perseguidos políticos” e, ao mesmo tempo, de testar a força da base conservadora no Parlamento. O Centrão, pragmático, vê no tema uma moeda de troca para ampliar seu poder de barganha com o governo.

Hugo Motta entre a pressão e a prudência

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), está sob forte pressão para pautar o projeto em regime de urgência. Ele sabe, porém, que uma votação precipitada pode desgastar sua liderança e tensionar a relação com o STF. Motta tem sinalizado a aliados que só levará o tema ao plenário se a correlação de forças estiver claramente a favor — e, ainda assim, a contragosto.

Governo aposta em articulação discreta

O Palácio do Planalto, oficialmente contrário a qualquer anistia, busca evitar que o tema avance. Publicamente, Gleisi Hoffmann (PT) reforça o discurso de enfrentamento. Nos bastidores, a estratégia é mais sutil: trabalhar para reduzir o placar da oposição, revertendo cerca de duas dezenas de votos, o suficiente para derrotar o projeto sem ampliar fissuras desnecessárias.

Nos bastidores, porém, o Palácio do Planalto admite que Hugo Motta, pode ser forçado a ceder às pressões e colocar o tema em votação. Para não ser surpreendido, o governo decidiu enfrentar a questão diretamente: quer derrotar no plenário da Câmara, já na próxima semana , qualquer projeto que venha a ser pautado.

As lideranças governistas trabalham para que a oposição não atinja os 257 votos necessários para aprovar a anistia. A estratégia é convencer deputados indecisos e desgastar a narrativa de que o perdão representaria pacificação, reforçando que ele poderia, na verdade, aprofundar a crise institucional.

O fator imprevisível do Congresso

A oposição diz ter 280 votos — margem confortável, mas não intransponível. Em votações de alta temperatura política, acordos de última hora, pressões regionais e interesses particulares podem virar o jogo. Se a anistia for derrotada, o bolsonarismo sofrerá mais um revés e o STF consolidará sua autoridade. Se avançar, o Congresso demonstrará capacidade de desafiar o Judiciário, abrindo um novo capítulo na crise institucional brasileira.


Feridas históricas e ecos do passado

A condenação de Bolsonaro reabre feridas históricas e ecoa debates que atravessaram a República — da anistia ampla de 1979, que perdoou crimes da ditadura militar e da resistência armada, aos perdões pontuais negociados em crises políticas.

Anistia como estratégia política no Brasil

A Lei de Anistia de 1979 foi concebida como um pacto para a transição democrática, mas continua controversa por blindar agentes da repressão. Já em 1985, o perdão concedido a exilados políticos pavimentou a Nova República. Mais recentemente, em 2010, o STF confirmou a validade dessa anistia, frustrando demandas de revisão.

Em 2023, líderes bolsonaristas já tentaram inserir dispositivos de anistia em projetos de lei para atenuar condenações do 8 de janeiro, sem sucesso. Esses precedentes mostram que anistias costumam surgir em momentos de tensão, mas nem sempre alcançam o efeito pretendido.

Centrão e bolsonarismo repetem uma velha fórmula

A tentativa de usar a anistia como instrumento político não é nova. Durante o governo Collor, setores conservadores também buscaram blindagem parlamentar após denúncias de corrupção.

No caso atual, a diferença é o nível de desgaste popular do bolsonarismo e o fortalecimento institucional do STF após anos de ataques à democracia.

O Centrão, pragmático, usa o tema como alavanca de negociação com o Planalto — sem necessariamente acreditar na aprovação da medida.


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