Jair Bolsonaro (PL) sabe exatamente o que faz. Ao descumprir deliberadamente as medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente não agiu por ingenuidade ou impulso.

Transformou sua restrição de liberdade em palco político, usou seus aliados como alto-falantes e desafiou o Judiciário para inflamar sua base. O resultado não surpreende: Bolsonaro está agora em prisão domiciliar.

Comício travestido de reunião e ataques remotos

A primeira quebra das regras ocorreu quando Bolsonaro trocou uma suposta “reunião partidária” no Congresso por um ato político contra o STF, cercado de câmeras, apoiadores e provocações.

A segunda foi ainda mais simbólica: impedido de comparecer fisicamente às manifestações do último domingo, o ex-presidente resolveu participar à distância — por telefone,  em Copacabana (RJ), por vídeo, na Avenida Paulista (SP).


Não foram incidentes isolados. Foram movimentos calculados para provocar uma reação do Judiciário. Como quem deseja ser punido para posar de mártir.

O papel da família e dos aliados: gasolina no incêndio

Enquanto Bolsonaro burlava as restrições, o senador Flávio Bolsonaro divulgava sua fala nas redes. Na Paulista, o deputado Nikolas Ferreira (PL) — espécie de sucessor do bolsonarismo de confronto — passou do tom ao defender a prisão do ministro Alexandre de Moraes e declarar que “sem a toga, você não é nada”.

São palavras que revelam o real objetivo do bolsonarismo: não é apenas contestar decisões judiciais, mas desmoralizar o STF como instituição, em nome de uma retórica de perseguição. Transformam réus em vítimas e tornam infratores em heróis — ao menos para sua base radicalizada.

O vitimismo como estratégia recorrente

Bolsonaro sabia que estava sendo monitorado, sabia das consequências e ainda assim optou pelo confronto. Fez o cálculo político de que sairia ganhando ao ser punido, reforçando sua narrativa de “perseguido pelo sistema”.

Mas há uma diferença entre crítica legítima e afronta deliberada à lei. Ao ignorar as medidas cautelares, o ex-presidente tomou uma decisão: a de confrontar o Supremo em troca de dividendos políticos. Como resultado, está preso em casa, monitorado por tornozeleira eletrônica, e com a imagem de líder desafiador que tanto cultiva.

O que está em jogo vai além de Bolsonaro

Não se trata apenas de um embate entre um ex-presidente e um ministro do STF. Está em jogo a autoridade do Estado de Direito.

Quando um político desafia abertamente uma ordem judicial e seus seguidores aplaudem, o recado é perigoso: obedecer à Justiça vira sinal de fraqueza; descumpri-la, sinal de força.

Se o Judiciário hesita, é acusado de leniência. Se age, é tachado de ditador. É um jogo de cartas marcadas em que qualquer desfecho alimenta a retórica bolsonarista. A diferença, agora, é que o capitão está jogando de dentro de casa — e sob vigilância eletrônica.


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