Trump e Bolsonaro
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Trump e Bolsonaro


A ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros já começa a gerar derrotas para o clã Bolsonaro em Brasília — e não apenas na esfera econômica. Nos bastidores do Congresso, líderes do centrão passaram a admitir a possibilidade de enterrar um dos projetos mais sensíveis articulados por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro: o Projeto de Lei da Anistia, que propõe o perdão aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

A proposta vinha sendo costurada desde o início do ano por parlamentares ligados ao PL, com apoio informal do Centrão, e tinha como objetivo aliviar as penas de centenas de manifestantes já condenados. Nos cálculos da oposição, o projeto poderia ser votado ainda neste ano. Mas a ofensiva comercial de Trump congelou as articulações.

Lideranças do Centrão, ouvidas sob reserva, reconhecem que “não há clima” para colocar a anistia em pauta enquanto o governo federal tenta gerenciar a crise internacional com os Estados Unidos — um parceiro comercial estratégico e, até pouco tempo atrás, considerado “governo irmão” pelo bolsonarismo. Misturar os dois temas, avaliam, poderia transformar um impasse diplomático em escândalo político.

Manobra nos bastidores: nova versão da anistia em construção

Mesmo com o projeto travado, fontes do Vai na Fonte confirmaram que uma versão alternativa do PL da Anistia está sendo negociada discretamente. Participam da costura o deputado Hugo Motta (Republicanos), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União), e o próprio Bolsonaro, que acompanha os bastidores por meio de interlocutores.

O novo texto prevê a retirada de dois agravantes das penas impostas aos envolvidos nos ataques às sedes dos Três Poderes, o que abriria margem para a progressão de regime para o semiaberto ou até o aberto. A proposta, no entanto, restringiria o benefício apenas a quem esteve fisicamente na Esplanada dos Ministérios no dia 8 de janeiro — deixando de fora os financiadores e articuladores intelectuais da tentativa de golpe.

Apesar da limitação, aliados do ex-presidente preparam um destaque para incluir Jair Bolsonaro entre os possíveis beneficiados, mesmo sem sua presença no local no dia dos atos. A articulação seria feita por meio da tese de “perseguição judicial” e do “caráter político” das condenações.


Planaltos em choque: um comitê para conter o estrago

Enquanto o Legislativo recua, o Palácio do Planalto tenta assumir o controle da situação. Nesta semana, o governo federal anunciou a criação de um comitê interministerial para formular uma resposta oficial à medida adotada por Trump. A pressão é grande: setores da indústria e da agropecuária alertam para o risco de prejuízos bilionários caso a tarifa seja mantida.

A equipe de Lula quer evitar que a crise se transforme em pretexto para radicalização da oposição, ou que o Planalto seja responsabilizado por eventual retaliação comercial. O clima de cautela contaminou até parlamentares da extrema direita, que passaram a evitar discursos mais agressivos contra os Estados Unidos.

Anistia travada, custo político em alta

Antes da ofensiva de Trump, a oposição se movimentava para aprovar o projeto de anistia com apoio do Centrão, que enxergava na proposta uma chance de barganha com o governo federal. Agora, mesmo os defensores mais ferrenhos da medida admitem que o cenário mudou.

A anistia perdeu prioridade. Ganhou peso político. E virou um problema

A ironia não passa despercebida: o bolsonarismo, que sempre se alinhou incondicionalmente ao trumpismo, agora vê seus próprios planos bloqueados por aquele que ajudaram a promover como símbolo global de resistência à democracia. A mesma mão que aplaudiram agora os empurra para o limbo político.

E o que antes era tratado como “direito à anistia”, hoje se tornou uma moeda cara demais para ser gasta no meio de uma crise internacional.


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