Equipe da Vale
Rede social
Equipe da Vale


A mineradora Vale, uma das maiores do mundo, foi condenada pela Justiça do Trabalho de Minas Gerais (TRT) por submeter seus empregados a riscos graves durante o manuseio de explosivos numa mina localizada na região de Mariana (MG). O local, que já carrega o trauma  do maior desastre ambiental do país — o rompimento da barragem de Fundão, em 2015  - agora volta ao noticiário por práticas que revelam negligência reincidente.

De acordo com a sentença da juíza Marcela Drumond, da Vara do Trabalho de Ouro Preto, mantida pelo desembargador Marcelo Lamego Pertence, a empresa orientava seus empregados a recolher materiais descartáveis em lixeiras para marcar os pontos de perfuração nas rochas, que depois receberiam explosivos de alta potência. A prática, afirma a juíza, configura “grave violação às normas de segurança do trabalho”.


Copos sujos como ferramenta de campo

João Orestes Pinto, funcionário da Vale à época, revelou que era comum usar copos plásticos retirados do lixo — muitos com restos de alimentos — para demarcar os furos nas rochas.

Testemunhas ouvidas pela Justiça confirmaram a rotina: entre 100 e 150 copos precisavam ser coletados todos os dias. Às vezes com luvas, outras vezes sem, os trabalhadores disputavam resíduos das lixeiras da portaria e do restaurante da empresa.

A cena é digna de um roteiro distópico: trabalhadores da maior  mineradora do país improvisando com lixo reciclado em uma das etapas mais perigosas da mineração. Não por escolha, mas por falta de fornecimento básico de materiais. Para João, a situação era “vexatória”.

Especialista: "Improvisar com explosivo é crime anunciado"

Para o advogado trabalhista Ítalo Samuel Cardo de Jesus, a prática é absolutamente inaceitável e assemelha-se a “brincar com pólvora no escuro”.

Ele alerta que a utilização de resíduos como ferramenta de campo evidencia uma cultura empresarial que ignora normas básicas de segurança, mesmo após tragédias que já custaram vidas e milhões de reais em indenizações.

"É impensável que uma empresa do porte da Vale ainda exponha seus funcionários a esse tipo de risco. A prática reforça um padrão de desprezo pela integridade física dos trabalhadores" , afirma o especialista.

Ouro Preto em risco: ameaça extrapola os muros da mineradora

A mina alvo da condenação está situada na região de Ouro Preto, cidade histórica tombada pela Unesco como patrimônio da humanidade.

A decisão judicial ressalta que as consequências de uma falha vão muito além da empresa: atingem a comunidade, a estrutura urbana e o legado cultural da região.

Imagem da Vale volta a sofrer abalos

Mesmo após os desastres de Mariana (2015) e Brumadinho (2019), a Vale continua enfrentando dificuldades para manter padrões mínimos de segurança.

A condenação obriga a empresa a pagar R$ 300 mil por danos morais coletivos e determina que a prática seja definitivamente abandonada. 

Autor da ação, João Orestes Pinto recorreu pedindo o aumento do valor da indenização por danos morais, fixado na origem em R$ 10 mil.

Alegou que a atual quantia não está adequada à extensão do dano, à gravidade da conduta e, especialmente, à capacidade financeira da mineradora.

Procurada, a mineradora ainda não se pronunciou sobre a decisão.


    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!