Inquérito da Polícia Federal (PF), no âmbito da Operação Rejeitos, aponta que o delegado Rodrigo Mello Teixeira — ex-diretor nacional de Polícia Administrativa e ex-superintendente da PF em Minas Gerais — teria utilizado a estrutura policial para proteger aliados e perseguir empresários rivais. Além de Teixeira, a operação prendeu outras 21 pessoas suspeitas de participação em um esquema de corrupção envolvendo mineradoras, incluindo empresários e servidores públicos em Minas Gerais e Brasília
Perseguições e alvos identificados
De acordo com documentos da Polícia Federal, os sócios das mineradoras Green Metals e Empabra — Luis Fernando Franceschini da Rosa, Lucas Prado Kallas e Bruno Luciano Henriques — foram vítimas do aparato policial orquestrado por Teixeira a serviço dos empresários João Alberto Paixão Lages e Alan Cavalcanti Nascimento, presos na Operação Rejeitos. A perseguição teria começado em 2021. O inquérito aponta que operações policiais foram direcionadas para prejudicar empresas que se recusaram a atender aos interesses comerciais do grupo. A Green Metals, por exemplo, teria se negado a vender minério a João Alberto, o que teria motivado as retaliações.
Diligência irregular e uso indevido de sistemas internos
Uma diligência realizada na sede da Green Metals, em 29 de março de 2022, ocorreu sem respaldo formal de investigação e contrariou protocolos internos da PF. Conversas obtidas pela investigação revelam que a delegada Kelly Cristina de Castro Batista, a pedido de Teixeira, pesquisou dados internos sobre a empresa e seus proprietários e chegou a mencionar a possibilidade de “fazer prisão em flagrante na semana seguinte”.
O agente federal Kleber Gualberto dos Santos, em depoimento a PF, confirmou que a ordem partiu de Kelly, que posteriormente disse ter recebido a denúncia de Teixeira. Segundo Kleber, em novembro de 2021, Kelly solicitou seu acompanhamento para apurar possível extração mineral ilegal — diligência executada meses depois, por falta de efetivo.
Análises telemáticas autorizadas judicialmente mostram que, em 4 de novembro de 2021, Teixeira enviou via WhatsApp a localização da Green Metals e a decisão judicial que suspendia seu funcionamento. No dia seguinte, Kelly respondeu com imagens de consultas feitas em sistemas internos da PF sobre a empresa e o proprietário.
Cancelamento de TAC e suspeita de favorecimento
Um dia após essas trocas de mensagens entre os delegados, o então servidor estadual Fernando Baliani da Silva publicou decisão administrativa cancelando o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) ambiental da Green Metals — medida suspensa posteriormente pela Justiça. À época, a mineradora disputava mercado com o grupo de Alan Cavalcanti e João Alberto Lages, o que reforça a suspeita de favorecimento econômico ilícito.
Propinas e negócios milionários
As investigações sugerem pagamento de propinas a servidores da Secretaria de Meio Ambiente de Minas Gerais (Semad) e da ANM para agilizar licenças e valorizar direitos minerários. Segundo o inquérito, operações envolvendo a Brava Mineração já renderam cerca de R$ 4 milhões, com expectativa de lucros superiores a R$ 200 milhões.
Reuniões reservadas e articulação política
O inquérito menciona ainda mensagens entre Teixeira, empresários e consultores ambientais sugerindo articulações para influenciar investigações e decisões administrativas. Em abril de 2023, registros indicam uma reunião em um restaurante de Nova Lima (MG) entre Teixeira, João Alberto e Guilherme Santana, ex-diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM). Santana era investigado pela Polícia Federal sob suspeita de recebimento de propina, e João Alberto buscava a interferência de Teixeira para influenciar a investigação
Interferência na Operação Poeira Vermelha
Há fortes indícios de que Rodrigo Teixeira tenha interferido na Operação Poeira Vermelha, investigação da PF sobre crimes ambientais e corrupção em licenças minerárias. Essa ingerência estaria ligada ao afastamento do delegado Frederico Levindo, que presidia o inquérito até meados de 2023. Frederico apurava uma organização criminosa formada por Alan Cavalcante Nascimento, João Alberto Lages e outros empresários suspeitos de corrupção.
Afastamento de diretor da ANM e reunião suspeita
Em julho de 2022, Frederico representou pelo afastamento cautelar de Guilherme Santana, então diretor da ANM e preso na operação Rejeitos, por supostas ilegalidades no cargo. Em abril de 2023, o delegado ouviu depoimento de Santana. Três dias depois, mensagens mostram Gilberto Horta, sócio da consultoria ambiental Gmais e aliado de Teixeira, marcando uma reunião para que Santana relatasse o teor do depoimento ao delegado Teixeira. O encontro ocorreu em um restaurante no Seis Pistas, em Nova Lima ( MG).
Suspeita de retaliação contra delegado
Semanas depois, Frederico foi afastado da chefia da Delegacia de Meio Ambiente da PF e perdeu a presidência do inquérito. Na época, Teixeira ocupava o cargo de diretor de Polícia Administrativa em Brasília, o segundo mais importante da corporação. Para os investigadores, a sequência de fatos e as comunicações interceptadas reforçam a hipótese de ingerência e obstrução das investigações.
Delegado embolsou R$ 27 milhões
As apurações indicam ainda que Teixeira recebeu, como “presente”, 13% de participação em uma mineradora em Ouro Preto (MG). A companhia foi posteriormente vendida à Mineradora Vale, operação que teria rendido ao delegado mais de R$ 27 milhões. Investigadores afirmam que o esquema fazia parte de uma rede de favorecimentos e perseguições a concorrentes no setor, utilizando a estrutura policial para beneficiar aliados e prejudicar rivais.