decretação da prisão domiciliar  do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pode antecipar novas tentativas de sanções internacionais contra o Judiciário brasileiro — especialmente por parte de aliados bolsonaristas que atuam nos bastidores junto ao governo dos Estados Unidos. A avaliação circula entre deputados federais, influenciadores e estrategistas do entorno do ex-presidente.

Segundo esses interlocutores, a aposta inicial era de que as sanções já anunciadas pelo governo Donald Trump contra Moraes — com base na Lei Magnitsky  — provocariam um movimento de contenção dentro do Supremo, gerando certo “isolamento” do ministro entre os colegas.

A prisão de Bolsonaro, no entanto, teria tido o efeito contrário: tensionou ainda mais as relações institucionais e empurrou o grupo bolsonarista a acelerar ações nos bastidores internacionais. 

“Deixar o sistema digerir”

Um dos entusiastas dessa estratégia é o youtuber Paulo Figueiredo, neto do último presidente da ditadura militar e aliado próximo de Eduardo Bolsonaro (PL).

Nas palavras de Figueiredo, a expectativa era “dar tempo ao sistema para digerir” as sanções impostas a Moraes, sem provocar novas ações imediatas.

Ele, Eduardo e outros aliados do ex-presidente acreditavam que o gesto de Trump — incluindo a taxação de produtos brasileiros como forma de pressão — intimidaria o Supremo.


Esse clima alimentava, também, a esperança de que a proposta de anistia aos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro avançasse na Câmara dos Deputados.

O projeto, que já conta com as assinaturas necessárias para ser analisado em regime de urgência, tem sido mantido em “banho-maria” pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos).

Com a nova prisão de Bolsonaro, parlamentares do PL e de partidos do centrão avaliam que a tramitação pode ser destravada como reação política.

Conversa de bastidor e recusa do STF

Nós bastidores, houve ao menos uma tentativa de aproximação informal entre interlocutores do ex-presidente e ministros do STF, intermediada por figuras do meio jurídico e político em Brasília.

A proposta ventilada por aliados de Bolsonaro era estabelecer algum tipo de trégua — incluindo, por exemplo, o envio dos processos dos réus do 8 de janeiro para a primeira instância da Justiça Federal.

Segundo fontes ouvidas pela reportagem, a conversa não avançou. O ministro Gilmar Mendes teria sido categórico ao afirmar que o Supremo não aceitaria qualquer tipo de interferência externa ou acordo informal para alterar o curso dos processos.

A tentativa de articulação foi descrita por uma das fontes como “muito ruim” e marcada por desconfiança mútua.

Vale lembrar que, de acordo com a última pesquisa Datafolha, a maioria dos brasileiros se declara a favor da prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro em casos sob investigação.

Moraes reage e denuncia "organização criminosa"

Sexta-feira, na reabertura do semestre do Judiciário, Moraes reagiu publicamente às movimentações do clã Bolsonaro nos Estados Unidos.

Em discurso duro no plenário do Supremo, ele afirmou que a ofensiva promovida por Eduardo Bolsonaro e aliados configura a ação de “uma organização criminosa que age de forma covarde e traiçoeira”,   com o objetivo de submeter o Judiciário brasileiro a pressões estrangeiras.

O ministro ressaltou que o STF, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Polícia Federal “não se vergarão a essas ameaças”.

Ele também afirmou que tentativas de intimidar a Corte serão enfrentadas com rigor e dentro da legalidade constitucional.

Quebra de medidas cautelares levou à prisão

Bolsonaro já estava submetido a monitoramento eletrônico e recolhimento domiciliar noturno desde 18 de julho.

Segundo o despacho de Moraes, o ex-presidente descumpriu essas medidas no último fim de semana ao se comunicar por videoconferência com apoiadores em dois atos públicos — um no Rio de Janeiro e outro na Avenida Paulista, em São Paulo.

Em ambos os casos, Bolsonaro participou remotamente por meio de ligações com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL).

Para Moraes, esses gestos configuram desobediência às ordens do STF e justificam o agravamento das restrições, agora convertidas em prisão domiciliar integral.

Pressão internacional continua

Enquanto isso, nos Estados Unidos, aliados do ex-presidente continuam a pressionar congressistas e membros do governo Trump para que novas sanções sejam avaliadas contra ministros do STF.

Eduardo Bolsonaro, que desde março está licenciado do mandato para permanecer no país, é apontado como principal articulador desse movimento, ao lado de Figueiredo.

A inclusão de outros nomes da Corte na lista da Lei Magnitsky não está descartada. A estratégia bolsonarista segue sendo apostar na polarização internacional e buscar respaldo externo para enfraquecer os órgãos de controle no Brasil.

O Judiciário, por sua vez, reforça o discurso de que não aceitará esse tipo de pressão e que continuará a julgar os envolvidos nos atos golpistas de acordo com a Constituição.


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