
A declaração do ministro do Trabalho e Emprego Luiz Marinho de que o fim da escala 6x1 se tornou uma das principais bandeiras do governo Lula (PT) reacende um debate que o país insiste em adiar: a modernização das relações de trabalho à luz da dignidade humana. Luiz Marinho, não está apenas mexendo num artigo da CLT. Ao defender o fim da escala 6x1, ele provoca uma ferida aberta no modelo econômico brasileiro — um sistema que ainda se sustenta na lógica da exaustão, naturalizando jornadas desumanas em nome da produtividade.
As afirmações de Marinho, durante o seminário “Alternativas para o Fim da Escala 6x1”, ecoa uma obviedade que parte do empresariado insiste em negar: trabalhar seis dias seguidos por um de descanso não é eficiência, é atraso.
O ministro acerta ao chamar o modelo de “perverso”, sobretudo para as mulheres, que acumulam dupla ou tripla jornada. A promessa de uma “semana de quatro dias” ainda soa utópica, mas simboliza um movimento global — e inevitável — de revisão das relações de trabalho. Enquanto países discutem equilíbrio e inovação, o Brasil ainda debate quantos dias o trabalhador pode descansar sem ser acusado de preguiça.
Um país exausto não é um país produtivo
O debate sobre a escala 6x1 escancara o abismo entre o discurso da competitividade e a realidade da exaustão. Em nome da “eficiência”, o trabalhador brasileiro enfrenta uma das jornadas mais longas do planeta, com impactos diretos sobre saúde mental, convívio familiar e até mesmo segurança — basta observar o número crescente de acidentes de trabalho ligados ao cansaço.
É compreensível que setores empresariais resistam a mudanças. Nenhuma transformação estrutural nasce sem conflito. Mas é dever do Estado corrigir distorções históricas e garantir que o progresso não dependa da deterioração humana. Marinho tem razão ao insistir no fortalecimento da negociação coletiva: sem sindicatos fortes e representativos, o diálogo social é apenas retórica.
A transição para uma jornada mais justa não é um capricho ideológico, mas uma necessidade estratégica. Países que reduziram o tempo de trabalho não colapsaram — ao contrário, viram ganhos em produtividade e bem-estar. O Brasil precisa escolher se continuará defendendo o velho mito do “trabalhador que aguenta tudo” ou se quer, de fato, construir uma economia moderna, sustentável e humana.
PEC propõe semana de quatro dias e extingue escala 6x1
Durante o evento, foi debatida a PEC 8/25, que propõe uma semana de quatro dias de trabalho e três de descanso, com limite de 36 horas semanais e o fim definitivo da escala 6x1. A proposta ainda será analisada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
O debate, solicitado pelo deputado Luiz Carlos Motta (PL), busca avaliar os impactos do atual modelo sobre a saúde, a qualidade de vida e as relações sociais dos trabalhadores.
Marinho usou o encontro para denunciar o que chamou de “perversidade histórica das relações de trabalho no Brasil”. “Quando a gente olha para os números, vê que a desigualdade não é um acidente, mas resultado de escolhas históricas que penalizam os trabalhadores, especialmente os mais pobres”, afirmou. “Essa perversidade aparece na informalidade, na precarização e na falta de proteção. O papel do Estado é justamente corrigir isso, garantindo direitos, fortalecendo a fiscalização e apoiando quem mais precisa.”
O tema trabalho estava obstruído na Casa
O ministro celebrou o fato de o tema ter voltado à pauta do Parlamento. “O tema trabalho estava totalmente obstruído na Casa. Este debate ajuda a desbloquear e traz relevância para as relações de trabalho no Brasil”, afirmou.
Marinho lembrou que avanços sociais sempre enfrentaram resistência, citando a redução constitucional de 48 para 44 horas semanais em 1988.
Redução para 40 horas semanais e ganhos de produtividade
O ministro defendeu que o Brasil tem condições econômicas para avançar e reduzir imediatamente a jornada máxima para 40 horas semanais.
Para o ministro, cabe perfeitamente reduzir a jornada máxima para 40 horas semanais imediatamente. Ele citou experiências de empresas que adotaram jornadas menores, com ganhos de produtividade e qualidade de vida.
Resistência ao diálogo sobre comércio nos feriados
Marinho também criticou a reação de setores empresariais à portaria que exige negociação coletiva para funcionamento do comércio nos feriados.
“A portaria apenas dizia que feriado não é proibido funcionar, que é obrigatório negociar. A reação foi brutal”, relatou.
