
As recentes sanções do governo dos Estados Unidos à mulher de Alexandre de Moraes, Viviane Barci de Moraes, e à Lex Instituto de Estudos Jurídicos, empresa ligada ao ministro, representam mais do que um constrangimento diplomático. Elas mudaram a temperatura política em Brasília e podem ter impacto direto no futuro de Jair Bolsonaro (PL).
Até ontem, havia um entendimento tácito de que, por razões humanitárias e para evitar mais turbulências, condenado a 27 anos de prisão, o ex-presidente poderia cumprir a pena em regime domiciliar ou, ao menos, em uma cela especial. Esse arranjo, embora controverso, era visto como uma forma de reduzir tensões e sinalizar estabilidade institucional.
Mas a irritação de Alexandre Moraes e de outros ministros do Supremo com as sanções azedou as negociações.
O consenso informal ruiu. O risco de Bolsonaro ser enviado à Papuda deixou de ser apenas um fantasma distante: tornou-se uma possibilidade concreta, comentada abertamente até por aliados do ministro.
O pragmatismo do Supremo foi ferido
A proposta de dosimetria das penas, costurada pelo deputado Paulinho da Força (Solideriedade) como alternativa à anistia ampla, vinha sendo um gesto de pragmatismo do Supremo e do Congresso. Ao aceitar discutir reduções, ministros como Moraes e Gilmar Mendes mostravam disposição de calibrar as punições sem desmoralizar o julgamento.
Esse pragmatismo, porém, exige confiança e um ambiente político minimamente estável. As sanções estrangeiras, atingindo diretamente um ministro central do processo, abalaram esse equilíbrio.
O resultado é um STF mais fechado, menos disposto a concessões, e um cenário político que volta a flertar com o confronto. Para Bolsonaro, o recado é claro: a expectativa de um tratamento diferenciado perdeu força. Para o governo e para o Congresso, fica o desafio de administrar uma crise que não nasceu em Brasília, mas que encontrou terreno fértil para gerar instabilidade.