O cancelamento dos vistos do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e de dois de seus aliados históricos no Mais Médicos, Mozart Sales e Alberto Kleiman, não é um ato isolado. É parte de uma ofensiva política calculada do governo de Donald Trump para atingir não apenas pessoas, mas a própria concepção de saúde pública que o Brasil defende há décadas.
Sob a desculpa de combater um suposto “ trabalho forçado” de médicos cubanos, Washington repete o velho mantra da extrema direita norte-americana: criminalizar tudo o que envolva Havana e, de quebra, enfraquecer governos que ousam contrariar seus interesses.
Ataque orquestrado e seletivo
Não é coincidência que, nas últimas semanas, Trump tenha acumulado ações contra autoridades brasileiras – da cassação de vistos de ministros do Supremo à inclusão de Alexandre de Moraes na Lei Magnitsky. O alvo real não é “defender a liberdade de expressão”, mas interferir no processo judicial contra ex-presidente Jair Bolsonaro e sustentar uma rede de aliados políticos no Brasil. Agora, com o Mais Médicos na mira, o ataque tem endereço certo: desmontar um programa que provou ser eficiente e popular.
Criado em 2013, o Mais Médicos levou assistência a periferias, áreas remotas e comunidades indígenas, alcançando cerca de 60 milhões de brasileiros. Bolsonaro desmontou o programa, atendendo a pressões ideológicas e interesses corporativos. Lula retomou a iniciativa, priorizando médicos brasileiros, mas preservando sua essência: garantir saúde onde antes só havia abandono. É exatamente isso que incomoda Washington — porque, nos EUA, saúde não é direito, é negócio.
“Saúde e soberania não se negociam”
Ao responder às sanções, Padilha foi direto: “ Não nos curvaremos a quem persegue vacinas, pesquisadores e a ciência”. Sua reação não é apenas defesa pessoal ou de dois ex-colegas de ministério, mas um recado de que o Brasil não aceitará imposições externas sobre políticas públicas que salvam vidas.
O incômodo dos EUA é evidente: enquanto o Mais Médicos oferece atendimento gratuito a milhões, Trump age para punir quem fez isso acontecer. É a velha lógica imperial de tentar controlar o que não consegue compreender — ou, pior, o que não consegue lucrar.
No fim, a disputa é muito maior que um visto revogado. É sobre quem dita as regras: se o povo brasileiro, que elegeu um governo com compromisso de garantir saúde como direito, ou um ex-presidente norte-americano que trata atendimento médico como mercadoria de luxo.