
As críticas recentes dos filhos de Jair Bolsonaro a aliados políticos evidenciam que o debate sobre a sucessão dentro da direita já começou, ainda que de forma precoce. Carlos Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro intensificaram ataques nas redes sociais após sinais públicos de apoio do centrão à possível candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), à Presidência da República em 2026.
As manifestações não se restringem à defesa do pai, que enfrenta julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) e pode ser condenado a mais de 40 anos de prisão. Elas também funcionam como instrumento de preservação de capital político da família, numa tentativa de assegurar que o clã Bolsonaro continue no centro das articulações mesmo diante da iminência de um novo líder na direita.
A estratégia da família
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL) busca projetar-se como herdeiro natural do espaço político do pai. Suas declarações contra possíveis articulações em torno de Tarcísio e a insatisfação com a ausência de seu nome em pesquisas eleitorais indicam o esforço para não ser eclipsado em meio ao rearranjo político.
O vereador Carlos Bolsonaro (PL), por sua vez, reforça a narrativa de lealdade ao ex-presidente, associando eventuais movimentos de substituição à “falta de humanidade” de aliados.
Enquanto isso, Jair Renan Bolsonaro endossa publicamente Eduardo como “opção natural da direita”, questionando a exclusão do irmão dos levantamentos de intenção de voto. Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em posição distinta, adota postura mais reservada, evitando confrontos diretos e preservando pontes políticas em Brasília.
Essa diversidade de discursos dentro da própria família reflete tanto a disputa por espaço individual quanto a busca por manter relevância coletiva.
O centrão e os movimentos de Tarcísio
Do outro lado, líderes do PL e do PP observam com pragmatismo os movimentos em torno de Tarcísio de Freitas. A avaliação é de que sua pré-candidatura só deve ser oficializada após o julgamento de Jair Bolsonaro no STF, previsto para ocorrer entre setembro e outubro.
Essa espera permite calibrar o momento político: manter a fidelidade ao ex-presidente enquanto for possível e, se necessário, apresentar uma alternativa competitiva em tempo hábil para estruturar uma campanha nacional.
O quadro revela um impasse. De um lado, a família Bolsonaro procura blindar seu capital político e assegurar continuidade de protagonismo. De outro, o centrão age com cautela, testando o terreno para uma possível transição de liderança. A disputa já não é apenas eleitoral, mas também simbólica: quem herdará a representação da direita no cenário pós-Bolsonaro.