
A cena protagonizada por Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) nesta terça-feira (13), durante a sessão da CPI das Apostas Esportivas, foi um retrato do que há de mais lamentável na política brasileira: o uso do Congresso Nacional como palco de autopromoção rasa, vazia e desrespeitosa.
Em vez de interrogar com firmeza a influenciadora Virginia Fonseca — convocada para prestar esclarecimentos sobre sua relação com casas de apostas — o senador mineiro optou por fazer piada, puxar conversa fiada, pedir selfie e até mandar “um abraço pra esposa e filha”.
“Deus abençoe a audiência”: ironia e escárnio em plena CPI
A sequência foi grotesca. Virginia tratou o depoimento como uma live descontraída, debochando dos parlamentares com frases como “Deus abençoe nossa audiência e bora pra cima!”. Questionada sobre se conhecia o senador que a adulava, respondeu: “Sei que te conheço de algum lugar”, expondo Cleitinho ao ridículo diante do país.
A sessão, que deveria investigar a promoção de jogos de azar para milhões de jovens, virou piada. Um show lamentável transmitido ao vivo e amplificado nas redes sociais.
O fiscal da moral que se ajoelha para influenciadora
É difícil não lembrar que, em setembro de 2024, Cleitinho discursava como defensor das famílias brasileiras. Ao lado de Omar Aziz (PSD-AM), pediu a suspensão das plataformas de apostas no STF. Alegava que as bets estariam destruindo lares, endividando jovens e promovendo vício. Era, segundo ele, uma “pauta sem lado”, uma causa justa que deveria unir todos os brasileiros.
E agora? O mesmo senador que se dizia “contra as bets” vira fã de uma das maiores divulgadoras do setor, age como tiete e ainda a chama de “cristã”, implorando que ela “pare com isso, se tocar seu coração”. Não há coerência. Há oportunismo. Há covardia.
Um histórico de populismo, despreparo e vergonha institucional
Cleitinho Azevedo é o típico fenômeno fabricado pelas redes sociais: fala fácil, vídeos performáticos, frases de efeito, pouca substância. Já pediu chuveiro e cama no gabinete da Assembleia Legislativa de Minas quando era deputado estadual. Elegeu dois irmãos seguidos — um prefeito de Divinópolis, outro deputado estadual — como se a política fosse herança de família.
E agora, como senador, repete a fórmula: transformar tudo em conteúdo para engajamento. A CPI? Apenas mais um cenário para seu teatro barato.
O Senado não é ringue de Instagram
O presidente da CPI, senador Dr. Hiran (PP-RR), precisou intervir e dizer o óbvio: que não permitiria que a comissão virasse um circo. Mas já era tarde. A sessão virou chacota nacional, e Cleitinho deixou claro que não está ali para legislar, investigar ou defender o interesse público. Está para aparecer. Nem que isso custe a dignidade do Senado.
Quem brinca com coisa séria não merece o cargo que ocupa. Cleitinho Azevedo deveria um pedido de desculpas não apenas aos colegas de CPI, mas à sociedade brasileira — que está cansada de palhaços em lugar de parlamentares.