Nikolas Ferreira
Câmara dos Deputados


Depois de tentarem vender a versão estapafúrdia de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria passado por um “surto” ao tentar violar sua tornozeleira eletrônica com um ferro de solda, seus aliados agora embarcam em outra justificativa improvável: a de que o ex-presidente suspeitava estar sendo vítima de uma “escuta” dentro do equipamento. É a segunda narrativa improvisada em menos de uma semana — e ambas soam igualmente desesperadas.

Os deputados Nikolas Ferreira (PL) e Bia Kicis (PL) afirmam que Bolsonaro teria ouvido um ruído vindo da tornozeleira e, tomado por uma suposta preocupação com espionagem, decidiu mexer no aparelho. A explicação, moldada sob medida para o imaginário bolsonarista, tenta transformar um ato deliberado de violação em gesto de “autodefesa”. Mas não resiste ao primeiro teste de coerência.

A realidade desmente a fábula

O vídeo divulgado pela Secretaria de Administração Penitenciária do DF desmonta a versão dos parlamentares. Bolsonaro admite ter começado a danificar a tornozeleira “no final da tarde” de sexta-feira, muito antes do suposto barulho mencionado por seus aliados. E mais: ao ser questionado sobre o motivo, cita a palavra “curiosidade”, numa confissão que está a anos-luz do enredo conspiratório fabricado pelo bolsonarismo.


É evidente que o objetivo da nova explicação não é esclarecer o episódio, mas criar uma cortina de fumaça política. A base tenta desesperadamente reduzir o estrago de uma cena que, por si só, seria inimaginável para qualquer ex-chefe de Estado: um presidente da República, ainda que inelegível e réu em múltiplas investigações, tentando abrir com ferramentas improvisadas o dispositivo judicial que o vigia.

Narrativas de conveniência

A oscilação entre “surto”, “curiosidade” e “escuta” revela mais sobre o ambiente político que cerca Bolsonaro do que sobre o episódio em si. Seus aliados agem como bombeiros de crises próprias, correndo atrás dos fatos e produzindo explicações sob demanda, sempre com o mesmo objetivo: blindar o líder e manter mobilizada a parcela mais fiel da base.

Mas há limites para a ficção política. A prisão preventiva decretada por Alexandre de Moraes não surgiu do nada; foi embasada em reiteradas violações de medidas restritivas. Ao tentar manipular a tornozeleira, Bolsonaro reforçou exatamente a tese que seus aliados tentam desesperadamente negar.

No fim das contas, o barulho que assusta o bolsonarismo não vem da tornozeleira — vem da realidade. E contra ela, ferro de solda nenhuma resolve.

 Prisão preventiva

Na decisão que decretou a prisão preventiva de Bolsonaro, Alexandre Moraes diz que a convocação de uma vigília de apoiadores do ex-presidente pelo senador Flávio Bolsonaro (PL), prevista para a noite de sábado, somada à violação da tornozeleira, configurariam “gravíssimos indícios da eventual tentativa de fuga do réu Jair Messias Bolsonaro”.

O relator da ação penal da trama golpista cita a violação da tornozeleira como um dos indícios de que o ex-presidente planajeria uma fuga, que poderia ser realizada durante a aglomeração de apoiadores nas imediações da residência de Bolsonaro.

O ex-presidente estava preso preventivamente em sua casa, em Brasília, desde 4 de agosto, por ter descumprido medidas cautelares impostas a ele, como a proibição de gravar vídeos para apoiadores e de fazer uso de redes sociais, ainda que indiretamente.

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