
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), voltou a demonstrar nesta semana o quanto segue os passos do seu mentor político, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) . Durante uma coletiva de imprensa, Tarcísio fez piada com a crise sanitária provocada pela contaminação de bebidas alcoólicas com metanol, que já deixou mortes e centenas de intoxicados no estado.
Ao ser questionado sobre a gravidade da situação, o governador respondeu com ironia:
“No dia que começarem a falsificar Coca-Cola, eu vou me preocupar.”
A declaração, feita em tom de deboche, ocorreu logo após a reunião do Gabinete de Crise, criado para enfrentar o surto de intoxicação.
O encontro reuniu representantes das secretarias estaduais de Saúde, Segurança Pública, Justiça e Cidadania, Desenvolvimento Econômico e Fazenda, além de executivos das principais fabricantes de bebidas do país, como Brown-Forman (Jack Daniel’s), Bacardi, Diageo (Johnnie Walker e Smirnoff), Pernod Ricard (Absolut) e Beam Suntory (Jim Beam).
Surto nacional e mortes em São Paulo
A fala de Tarcísio ocorreu num momento de grande apreensão pública. Desde o fim de setembro, o Brasil enfrenta um surto de intoxicação por metanol, composto químico altamente tóxico usado de forma irregular para adulterar bebidas alcoólicas.
Segundo dados do Ministério da Saúde, o país registrava 225 casos de intoxicação por metanol, entre confirmados e suspeitos, distribuídos em 12 estados.Em São Paulo, epicentro da crise, são 192 casos, sendo 15 confirmados e 178 em análise.
A Polícia Federal investiga se o crime organizado participa da falsificação das bebidas. Tarcísio, no entanto, minimizou a hipótese: “Não há indícios que apontem nessa direção”, disse o governador.
Falta de empatia e memória da pandemia
A fala gerou críticas nas redes sociais e entre especialistas em saúde pública, que apontaram falta de empatia e sensibilidade em meio a uma tragédia que envolve crimes graves e mortes evitáveis.
Durante a pandemia de Covid-19, Bolsonaro fez piadas com as mortes, minimizou a gravidade da doença e chegou a ironizar o uso de vacinas. Agora, Tarcísio parece repetir a fórmula: responder com sarcasmo diante da dor alheia.
Especialistas cobram ação, não ironia
A contaminação por metanol é altamente letal e tem mobilizado equipes da Vigilância Sanitária e da Secretaria de Saúde. Para entidades do setor, o deboche do governador evidencia um comportamento recorrente na extrema direita diante de tragédias humanitárias.
A expectativa agora é que o governo paulista apresente ações concretas de fiscalização, rastreabilidade dos produtos adulterados e apoio às vítimas, em vez de transformar uma tragédia em motivo de chacota institucional.
O risco político da insensibilidade
Ao ironizar uma tragédia que mobiliza o país, Tarcísio de Freitas não apenas revela insensibilidade diante da dor alheia, mas também compromete sua imagem de gestor técnico e preparado, construída desde sua passagem pelo Ministério da Infraestrutura. O tom jocoso pode agradar a uma parcela mais radical do eleitorado bolsonarista, mas afasta o eleitor moderado e reforça a percepção de que o governador confunde liderança com provocação. Em momentos de crise, espera-se empatia, transparência e firmeza — não piadas.