Rodrigo Lopes

EUA não oficializaram revogação de vistos de ministros do STF

Dez dias após anúncio de Marco Rubio, não há qualquer ato oficial sobre cancelamento dos documentos

Alexandre Moraes
Foto: Superior Tribunal Eleitoral
Alexandre Moraes


A revogação dos vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e de seus familiares, anunciada por Mark Rubio — senador republicano e atual secretário de Estado dos EUA —, foi alardeada por bolsonaristas como uma “vitória moral” contra o que chamam de "ditadura do Judiciário" no Brasil. No entanto, passados dez dias da publicação de Rubio nas redes sociais, a realidade parece desmentir o espetáculo político: nenhuma notificação oficial chegou à Embaixada dos Estados Unidos no Brasil.

Na prática, até aqui, tudo permanece como antes. Nem Alexandre de Moraes, explicitamente citado na postagem, nem qualquer outro ministro, tampouco o procurador-geral da República Paulo Gonet, tiveram seus vistos formalmente cancelados.

Governo brasileiro expõe o blefe

Incomodado com a repercussão interna da postagem, o Governo Federal decidiu agir. Uma alta autoridade procurou, na última sexta-feira, o serviço consular da embaixada americana em Brasília.

A pergunta foi direta: os vistos dos ministros e do PGR foram ou não cassados?


A resposta veio com frieza diplomática: não houve qualquer comunicação oficial da Casa Branca ou do Departamento de Estado sobre a revogação de vistos. Ou seja, até o momento, Rubio falou por conta própria — e não pelos EUA.

A fanfarra bolsonarista e a verdade inconveniente

Nas redes, o anúncio foi tratado como se fosse uma sanção oficial do governo dos EUA contra o Supremo.

Figuras do bolsonarismo passaram dias em êxtase, repetindo frases de efeito e espalhando vídeos comemorativos. Mas agora o silêncio do governo norte-americano expõe o vexame: não há documento, notificação ou qualquer ato oficial confirmando o que foi anunciado por um político com interesses eleitorais claros.

Rubio, vale lembrar, é aliado do presidente  Donald Trump e tem histórico de declarações pirotécnicas para agradar a base conservadora.

Transformar o STF brasileiro em vilão internacional parece ter sido, neste caso, mais um lance eleitoral do que uma ação diplomática com consequência real.

A lenta engrenagem da burocracia — ou a falta de vontade política

É verdade que o sistema diplomático norte-americano é lento e altamente burocrático.

Mas também é verdade que, se quisessem mesmo cassar os vistos, já o teriam feito por vias formais.

A ausência de qualquer sinal institucional, tantos dias depois da "ordem" de Rubio, sugere que a retórica foi mais alta que a intenção.

Mesmo que a comunicação oficial ainda esteja em trâmite, o fato de ela não ter sido feita imediatamente, diante de uma declaração pública grave, escancara o abismo entre discurso e realidade. Rubio jogou para a plateia. E a plateia bolsonarista, como de costume, aplaudiu sem checar.

Ao que tudo indica, os vistos continuam válidos. E o que foi vendido como “reação dos EUA ao autoritarismo do STF” talvez não passe de uma encenação mal escrita.