
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou ao terceiro mandato com experiência, capital político internacional e o discurso da reconstrução. Mas a realidade imposta pelo Congresso tem sido uma aula de pragmatismo selvagem. A base de apoio ao governo não apenas derreteu — ela se dissolveu em conveniências locais e cálculos eleitorais de curtíssimo prazo.
O índice de infidelidade partidária entre aliados formais atingiu um patamar inédito nas últimas três décadas, segundo dados de acompanhamento legislativo. O que antes era considerado “rebelde” virou regra.
Aliados no papel, adversários na prática
União Brasil, PP e Republicanos ocupam cargos, indicam emendas, mas votam com a oposição em pautas-chave. São partidos de governo apenas na folha de Excel da Esplanada.
No plenário, atuam como linhas auxiliares do bolsonarismo ou do mercado — o que estiver rendendo mais dividendo político no momento.
A recusa de líderes dessas legendas em assumir ministérios ou a protelação na entrega de nomes de confiança ao Executivo expõe mais do que desorganização: revela cálculo. Ninguém quer se comprometer com um barco que aparenta instabilidade.
Governo sem articulação, Congresso sem freio
A articulação política do Planalto sofre de paralisia. Comandada por quadros com pouca ascendência sobre o Congresso — e frequentemente atravessada por interesses conflitantes —, a engrenagem emperra.
O resultado é um governo que tropeça na própria base e entrega derrotas humilhantes mesmo em pautas consensuais. Medidas estratégicas da equipe econômica e social são minadas ou desfiguradas no plenário. A narrativa da reconstrução fica, assim, apenas no discurso.
E 2026 já começou
Lula já sinalizou que pretende disputar a reeleição. Mas o ambiente em torno dele é de crescente isolamento.
O avanço de nomes como Tarcísio de Freitas (Republicanos), com apoio bolsonarista e perfil de "gestor conservador", alimenta o apetite eleitoral da direita.
Ao mesmo tempo, alas do Centrão ensaiam abandonar o barco caso os ventos econômicos não mudem e os indicadores de popularidade não se recuperem. O relógio eleitoral já corre — e, por enquanto, corre contra o Planalto.
Lula enfrenta não apenas um Congresso fragmentado, mas uma era em que fidelidade política virou exceção e não mais regra. A pergunta que paira no ar é se o presidente conseguirá reorganizar a base sem ceder ainda mais à lógica fisiológica que prometeu enfrentar. Caso contrário, pode passar os próximos dois anos refém de um Parlamento que joga contra — mesmo sentado à mesa do poder.