
O agronegócio brasileiro, um dos pilares de sustentação política do ex-presidente Jair Bolsonaro , virou alvo direto do governo dos Estados Unidos. O Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR), comandado Jamieson Greer, anunciou a abertura de uma investigação formal contra o Brasil por práticas desmatamento consideradas injustas e danosas ao setor agrícola norte-americano.
A iniciativa, ironicamente, é apoiada por integrantes da família Bolsonaro, agora alinhados ao presidente Donald Trump . Os fazendeiros norte-americanos são eleitores centrais de Trump e vêm pressionando por medidas contra os concorrentes brasileiros.
Brasil acusado de desmatamento para favorecer exportações
O principal eixo da denúncia norte-americana é o desmatamento ilegal no Brasil, que segundo o relatório do USTR, favorece direta e deliberadamente o agronegócio. Trecho do documento diz:
“ A falta de aplicação efetiva das leis ambientais pelo Brasil contribuiu para o desmatamento ilegal. Pecuaristas e agricultores utilizam essas terras para produzir carne, milho, soja e outras culturas, gerando vantagem competitiva injusta ao Brasil.”
O relatório destaca que em 2024 o desmatamento chegou a 3.403 hectares por dia, e que até 91% dessas áreas teriam sido derrubadas ilegalmente. Em 2021, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi
ano de pico do desmatamento dos últimos 15 anos.
Déficit agrícola com o Brasil incomoda os EUA
Embora os Estados Unidos mantenham superávit comercial geral com o Brasil, o déficit agrícola explodiu nos últimos anos. Em 2020, os EUA tinham déficit de US$ 3 bilhões em produtos agrícolas; em 2024, o número saltou para US$ 7 bilhões.
Segundo o USTR, a substituição de exportações americanas por produtos brasileiros em países como a China compromete a soberania alimentar dos EUA e prejudica seus produtores rurais.
Madeira ilegal e uso de trabalho forçado
Outro ponto da investigação envolve a exportação de madeira extraída ilegalmente da Amazônia. O relatório afirma que mais de um terço da madeira amazônica vendida ao exterior pode ser de origem ilegal, e denuncia o uso de trabalho análogo à escravidão no processo.
“Há evidências do uso de documentos fraudulentos e de locais licenciados como fachada para escoar madeira extraída ilegalmente. Autoridades brasileiras teriam sido subornadas para permitir essas operações” , aponta o texto oficial.
A denúncia se estende também à corrupção institucional no Brasil, que teria permitido que exportadores multados continuassem operando livremente, inclusive vendendo para empresas americanas.
Bolsonaro, os madeireiros e o efeito bumerangue
O relatório expõe um paradoxo político: os mesmos setores investigados agora pelo governo Trump foram aliados centrais de Bolsonaro no poder. Madeireiros e grandes produtores rurais da Amazônia, especialmente no Pará, apoiaram ativamente a candidatura do ex-presidente e se beneficiaram de medidas que afrouxaram o controle ambiental durante seu mandato.
Agora, esses mesmos grupos serão alvo de uma ofensiva promovida pelo governo norte-americano — em uma iniciativa que conta com apoio da ala bolsonarista nos EUA, que passou a atuar como elo informal entre Trump e o agronegócio brasileiro.
Retaliações podem incluir sobretaxas e barreiras
Com a investigação aberta, os EUA poderão aplicar medidas de retaliação, como elevação de tarifas, restrição de importações agrícolas e aumento da fiscalização sobre produtos brasileiros. Leis como a Lei Lacey, que proíbe a entrada de madeira ilegal nos EUA, podem ser usadas como base jurídica para bloquear exportações.