Rodrigo Lopes

PL banca Michelle com jato e verba, mas sofre racha interno

Enquanto o partido despeja milhões na ex-primeira-dama, aliados se mordem de inveja e o bolsonarismo se divide — a fatura alta pode sair cara

Valdemar e Michelle Bolsonaro
Foto: Rede social
Valdemar e Michelle Bolsonaro


Desde que assumiu a presidência do PL Mulher, Michelle Bolsonaro passou a ocupar um papel central no tabuleiro político traçado por Valdemar Costa Neto . Com um orçamento de R$ 860 mil mensais — montante que inclui salários de assessores e despesas com viagens —, a ex-primeira-dama transformou sua agenda política em uma vitrine itinerante.

O uso do jato Bombardier Learjet 45 nas eleições municipais de 2024, ao custo de R$ 4,8 milhões para o partido, é o exemplo mais eloquente do investimento pessoal que Valdemar tem feito em sua nova aposta eleitoral.


O tratamento VIP, porém, não passou despercebido dentro da legenda. A diferença de recursos destinados a Michelle e a outros expoentes do partido, como o próprio Eduardo Bolsonaro, tem gerado desconforto e ciúmes. Em um partido onde o culto à figura do ex-presidente Jair Bolsonaro ainda é dominante, a ascensão meteórica de Michelle — amparada por cifras e estrutura — não parece ser unanimidade nem mesmo entre os aliados mais próximos da família.

O carisma como ativo e o controle como meta

O crescimento de 14% no número de filiadas ao PL Mulher entre 2023 e 2024 é, sem dúvida, um dado relevante. Mas os bastidores revelam que Valdemar Costa Neto vê na ex-primeira-dama uma personagem moldável. Alguém com carisma popular e forte apelo entre o eleitorado evangélico, mas ainda politicamente inexperiente — portanto, mais suscetível à orientação da cúpula partidária.

A intenção de controlar, no entanto, encontra resistência. Michelle, embora discreta diante da imprensa, tem fama de temperamento difícil e baixa tolerância à contestação. Esse traço, que durante a gestão como primeira-dama ficava mascarado por um papel institucional, agora aparece como obstáculo dentro da engrenagem política do PL. Para um partido acostumado ao pragmatismo e à hierarquia, ter uma liderança que não aceita ser contrariada pode custar caro.

O bolsonarismo dividido diante de Michelle

As tensões internas no campo bolsonarista também são visíveis. A divulgação de críticas por parte de Mauro Cid e Fabio Wajngarten , além da ausência de apoio público dos filhos de Bolsonaro à eventual candidatura de Michelle, mostram que a unanimidade é uma miragem. Não é trivial que Cid tenha preferido declarar voto em Lula a apoiá-la — um gesto que, por mais simbólico que seja, expõe as fissuras que Valdemar tenta ignorar ao investir nela como alternativa eleitoral.

As pesquisas recentes do Datafolha apontam que Michelle é, sim, competitiva. Mas seu desempenho está longe de ser avassalador: perde no segundo turno por margem estreita para Lula (46% a 42%) e ainda não consolidou base política própria. É, por enquanto, uma candidatura empacotada — cara, vistosa e frágil.

O preço da ambição e o risco do cálculo excessivo

Michelle Bolsonaro é hoje um dos maiores investimentos políticos do PL. Mas também é uma aposta de risco. O partido que cresceu surfando na popularidade de Jair Bolsonaro agora tenta fabricar uma nova figura com potencial eleitoral. O problema é que carisma não compra lealdade, nem estrutura milionária resolve impasses internos.

Se Michelle conseguir se viabilizar como candidata competitiva, Valdemar colherá os frutos. Mas, se o projeto fracassar, o partido terá bancado uma aventura pessoal — luxuosa, centralizada e com fatura elevada — que pode custar mais que dinheiro: pode custar poder.