
Até o homem que foi peça-chave na engrenagem da Lava Jato agora mira seu algoz. O doleiro Alberto Youssef, personagem central no maior escândalo de corrupção investigado no Brasil , ingressou no Supremo Tribunal Federal (STF) com um pedido que pode reabrir feridas profundas da Operação: ele quer que o ex-juiz Sergio Moro — atual senador (União Brasil) — seja declarado suspeito em todos os processos que o investigaram, prenderam e condenaram, no âmbito do petrolão.
O pedido, endereçado ao ministro Dias Toffoli, sustenta que a atuação de Moro foi "parcial, coordenada e politicamente dirigida" desde o início.
A defesa do doleiro fundamenta o requerimento em três frentes principais, todas apoiadas em documentos e episódios já conhecidos, mas agora reorganizados sob a ótica de uma atuação supostamente ilegal e direcionada do magistrado.
Suspeição seletiva: o recuo de Moro no caso Banestado
No primeiro ponto, os advogados de Youssef resgatam um despacho de 2010, no Caso Banestado , quando Sergio Moro se declarou suspeito “por motivo de foro íntimo” para julgar o doleiro.
O problema, segundo a defesa, é que o magistrado voltou atrás na própria decisão, reassumiu o processo e, posteriormente, invalidou o acordo de delação premiada firmado por Youssef na época — sem consultar os advogados do réu.
Para os defensores, essa guinada revela uma conduta contraditória e uma disposição para manipular o curso processual conforme seus próprios interesses ou estratégias.
O grampo da carceragem: negligência ou violação deliberada
O segundo eixo do pedido trata da instalação de um grampo clandestino na cela da Polícia Federal em Curitiba , onde Youssef esteve preso.
O equipamento — que teria captado inclusive conversas com seus advogados — foi tema de denúncia à época, mas nunca completamente esclarecido.
A defesa afirma que Moro teve conhecimento do grampo, não tomou medidas para interromper a escuta e ainda “omitiu providências” que poderiam garantir a legalidade do processo.
A acusação é grave: além da suposta negligência, os advogados insinuam que o magistrado se beneficiou do conteúdo das conversas captadas ilegalmente.
Instrumentalização da delação: uma operação contra o PT
A terceira frente é a mais explosiva. Os advogados de Youssef acusam Moro de ter utilizado a colaboração premiada do doleiro como ferramenta de perseguição política, com alvo definido: o Partido dos Trabalhadores e, especialmente, o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na petição, é citado que os depoimentos de Youssef embasaram diversas ordens de prisão expedidas por Moro contra figuras centrais do partido, como os ex-ministros José Dirceu, Antonio Palocci e Guido Mantega.
A defesa afirma que a delação foi “subjugada” e moldada para produzir efeitos jurídicos e políticos previamente combinados entre o magistrado e os procuradores da força-tarefa.
“ Ficou delimitada, com precisão, a conduta irregular do ex-Juiz Federal Sérgio Moro e seus congêneres da extinta Força Tarefa [...], com um objetivo muito claro e previamente definido: atingir o Partido dos Trabalhadores e o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva”, diz um trecho do documento.
Pedido de nulidade geral — mas com exceções
A defesa de Youssef pede que Toffoli reconheça a suspeição de Moro e declare a nulidade de todos os processos envolvendo o doleiro desde a origem.
Curiosamente, o pedido exclui o próprio acordo de colaboração premiada que permanece válido — sugerindo que Youssef não deseja renegar os benefícios obtidos, mas apenas reverter condenações específicas impostas sob a condução de Moro.
Reações e riscos: novo efeito dominó no Judiciário
O pedido ocorre em um momento sensível para o ex-juiz Sergio Moro, já declarado suspeito por Dias Toffoli em processos envolvendo Lula.
A eventual aceitação da nova tese — agora vinda de um dos protagonistas da operação — pode aprofundar a desconstrução jurídica da Lava Jato e gerar um novo efeito dominó sobre os processos derivados da delação de Youssef.
Caso Toffoli acate o pedido, outras figuras envolvidas nas investigações podem se sentir legitimadas a questionar as decisões de Moro com base na parcialidade, colocando em risco condenações consolidadas ao longo de mais de uma década.