Rodrigo Lopes

Doleiro da Lava Jato tenta anular condenações e acusa Moro

Petição ao STF acusa ex-juiz de manipulação, abuso de autoridade e uso político da delação

Sergio Moura e Zambelli
Foto: Rede social
Sergio Moura e Zambelli


Até o homem que foi peça-chave na engrenagem da Lava Jato agora mira seu algoz. O doleiro Alberto Youssef, personagem central no maior escândalo de corrupção investigado no Brasil , ingressou no Supremo Tribunal Federal (STF) com um pedido que pode reabrir feridas profundas da Operação: ele quer que o ex-juiz Sergio Moro — atual  senador  (União Brasil)  — seja declarado suspeito em todos os processos que o investigaram, prenderam e condenaram, no âmbito do petrolão.

O pedido, endereçado ao ministro Dias Toffoli, sustenta que a atuação de Moro foi "parcial, coordenada e politicamente dirigida" desde o início.

A defesa do doleiro fundamenta o requerimento em três frentes principais, todas apoiadas em documentos e episódios já conhecidos, mas agora reorganizados sob a ótica de uma atuação supostamente ilegal e direcionada do magistrado.


Suspeição seletiva: o recuo de Moro no caso Banestado

No primeiro ponto, os advogados de Youssef resgatam um despacho de 2010, no Caso Banestado , quando Sergio Moro se declarou suspeito “por motivo de foro íntimo” para julgar o doleiro.

O problema, segundo a defesa, é que o magistrado voltou atrás na própria decisão, reassumiu o processo e, posteriormente, invalidou o acordo de delação premiada firmado por Youssef na época — sem consultar os advogados do réu.

Para os defensores, essa guinada revela uma conduta contraditória e uma disposição para manipular o curso processual conforme seus próprios interesses ou estratégias.

O grampo da carceragem: negligência ou violação deliberada

O segundo eixo do pedido trata da instalação de um grampo clandestino na cela da Polícia Federal em Curitiba , onde Youssef esteve preso.

O equipamento — que teria captado inclusive conversas com seus advogados — foi tema de denúncia à época, mas nunca completamente esclarecido.

A defesa afirma que Moro teve conhecimento do grampo, não tomou medidas para interromper a escuta e ainda “omitiu providências” que poderiam garantir a legalidade do processo.

A acusação é grave: além da suposta negligência, os advogados insinuam que o magistrado se beneficiou do conteúdo das conversas captadas ilegalmente.

Instrumentalização da delação: uma operação contra o PT

A terceira frente é a mais explosiva. Os advogados de Youssef acusam Moro de ter utilizado a colaboração premiada do doleiro como ferramenta de perseguição política, com alvo definido: o Partido dos Trabalhadores e, especialmente, o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na petição, é citado que os depoimentos de Youssef embasaram diversas ordens de prisão expedidas por Moro contra figuras centrais do partido, como os ex-ministros José Dirceu, Antonio Palocci e Guido Mantega.

A defesa afirma que a delação foi “subjugada” e moldada para produzir efeitos jurídicos e políticos previamente combinados entre o magistrado e os procuradores da força-tarefa.

Ficou delimitada, com precisão, a conduta irregular do ex-Juiz Federal Sérgio Moro e seus congêneres da extinta Força Tarefa [...], com um objetivo muito claro e previamente definido: atingir o Partido dos Trabalhadores e o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva”, diz um trecho do documento.

Pedido de nulidade geral — mas com exceções

A defesa de Youssef pede que Toffoli reconheça a suspeição de Moro e declare a nulidade de todos os processos envolvendo o doleiro desde a origem.

Curiosamente, o pedido exclui o próprio acordo de colaboração premiada que permanece válido — sugerindo que Youssef não deseja renegar os benefícios obtidos, mas apenas reverter condenações específicas impostas sob a condução de Moro.

Reações e riscos: novo efeito dominó no Judiciário

O pedido ocorre em um momento sensível para o ex-juiz Sergio Moro, já declarado suspeito por Dias Toffoli em processos envolvendo Lula.

A eventual aceitação da nova tese — agora vinda de um dos protagonistas da operação — pode aprofundar a desconstrução jurídica da Lava Jato e gerar um novo efeito dominó sobre os processos derivados da delação de Youssef.

Caso Toffoli acate o pedido, outras figuras envolvidas nas investigações podem se sentir legitimadas a questionar as decisões de Moro com base na parcialidade, colocando em risco condenações consolidadas ao longo de mais de uma década.