Trump, Eduardo e Bolsonaro
Rede social
Trump, Eduardo e Bolsonaro


No entorno de Jair Bolsonaro, amadurece a percepção de que a cruzada internacional liderada por Eduardo Bolsonaro (PL-SP) contra o ministro Alexandre de Moraes tende a produzir mais ruído político do que impacto efetivo. A eventual punição anunciada pelo secretário  norte-americano Marco Rubio — que declarou que os Estados Unidos restringirão vistos de “funcionários estrangeiros e pessoas cúmplices na censura de americanos” — é lida por aliados como mais um gesto simbólico, incapaz de alterar a dinâmica institucional brasileira.

Essa leitura revela a assimetria entre a política externa, que opera com sinais e pressões diplomáticas, e a política interna, onde decisões judiciais e institucionais seguem lógicas próprias, pouco suscetíveis a pressões externas, sobretudo quando oriundas de setores ideologicamente alinhados, mas sem poder decisório sobre o Brasil.




O custo político de uma aposta arriscada

Na base bolsonarista no Congresso, mesmo os mais alinhados com Eduardo reconhecem que, ainda que sanções se concretizem, é improvável que consigam alterar a conduta de Alexandre de Moraes ou modificar o curso do julgamento que envolve Jair Bolsonaro.

Há, portanto, um risco político evidente: transformar uma ofensiva que busca projetar força em uma demonstração de fragilidade. Como sintetizou um deputado próximo ao clã Bolsonaro, “o gesto é discurso para a plateia, mas vazio na prática”. A percepção predominante é que Eduardo pode sair “menor” desta empreitada, caso não consiga entregar os efeitos que promete.

Articulações externas: potência retórica, limites estratégicos

Desde que se autoexilou nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro intensificou articulações com aliados de Donald Trump e congressistas republicanos, confiando que a pressão internacional resultaria em sanções concretas contra Moraes. A promessa de que o governo americano tomaria medidas até a próxima semana está em circulação entre apoiadores, mas mesmo dentro do bolsonarismo cresce o ceticismo sobre a efetividade real dessa estratégia.

O anúncio de Marco Rubio deu novo fôlego à narrativa, mas, sob análise mais fria, é um episódio que reforça o embate simbólico entre setores do bolsonarismo e as instituições brasileiras, sem alterar o equilíbrio de poder que sustenta o Supremo Tribunal Federal. A movimentação internacional parece mais uma extensão do discurso político do que uma estratégia com capacidade de interferir nos rumos do STF.

Alexandre de Moraes: estabilidade e resistência institucional

Do lado do STF, o ministro Alexandre de Moraes mantém a postura que tem caracterizado sua atuação: serenidade pública e foco na institucionalidade. Ao minimizar a relevância das pressões externas e repreender uma testemunha com a frase “se o senhor acha ou não que teve golpe, isso não é importante para a Corte”, Moraes sinaliza confiança e resiliência.

Nos bastidores, ministros do Supremo consideram inevitável a responsabilização de Eduardo Bolsonaro no Brasil, em razão de sua atuação internacional, vista como tentativa de constranger e pressionar o Judiciário — uma linha de ação que, em última instância, pode reforçar a coesão interna do STF e ampliar a percepção pública de que as instituições estão sob ataque.

Lula atua para conter a escalada institucional

O governo Lula, atento ao potencial desestabilizador da ofensiva internacional bolsonarista, buscou reforçar a estabilidade institucional com um gesto político claro: o presidente procurou contato direto com Alexandre de Moraes após o anúncio das possíveis sanções. O movimento é interpretado como esforço para blindar o Judiciário e evitar que a narrativa internacional de Eduardo Bolsonaro ganhe tração interna.

Essa articulação evidencia que, apesar do barulho externo, o centro de gravidade do embate permanece no Brasil, onde o governo busca consolidar a legitimidade institucional diante de tentativas de deslegitimação.

O dilema bolsonarista: manter a ofensiva ou recalibrar

Diante deste quadro, o bolsonarismo enfrenta um dilema estratégico: continuar investindo em gestos de enfrentamento midiático internacional, que alimentam a base ideológica, mas com baixa chance de produzir efeitos concretos; ou recalibrar a atuação, concentrando esforços na política interna, onde ainda mantém força considerável no Congresso e nas redes sociais.

A insistência na ofensiva internacional pode gerar dividendos simbólicos, mas carrega o risco de reforçar uma imagem de isolamento e fragilidade política. A linha entre a demonstração de força e o reconhecimento tácito da própria impotência política é, neste momento, tênue.


    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!