Wolney Queiroz e Sergio Moro brigando no senado
Agência Senado
Wolney Queiroz e Sergio Moro brigando no senado


O novo ministro da Previdência, Wolney Queiroz (PDT), assumiu o cargo para estancar a crise aberta pela Operação da Polícia Federal que escancarou um dos maiores esquemas de fraudes já registrados no INSS. Mas a tentativa de controlar os danos está se mostrando tão desastrosa quanto a omissão que permitiu o rombo bilionário no sistema.

Agora, além de enfrentar senadores indignados, Wolney também deve explicações à Câmara dos Deputados — e não faltam motivos.

Uma convocação que chega tarde

A Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC) pretende votar na próxima semana a convocação do ministro. A iniciativa vem depois de semanas de silêncio constrangedor por parte do governo sobre como e quando o dinheiro desviado será devolvido aos verdadeiros lesados: aposentados e pensionistas que mal conseguem arcar com as despesas básicas.


O presidente da comissão, deputado Bacelar (PV-BA), tenta organizar uma sessão deliberativa para discutir o tema. Mas o próprio calendário revela o descaso: Wolney pode ser convocado apenas à tarde, depois da audiência com ministro da Fazenda Fernando Haddad pela manhã. O escândalo que atingiu milhões de brasileiros idosos é, mais uma vez, tratado como assunto secundário.

A versão do governo e o jogo de empurra

Na audiência no Senado, Wolney se defendeu atacando. Disse que o esquema começou no governo Bolsonaro e lembrou que o então ministro da Justiça era Sergio Moro, hoje senador e um dos seus principais críticos. A resposta revela mais sobre a estratégia do governo do que sobre o caso em si: é o velho jogo de empurra, em que ninguém assume responsabilidade.

Acontece que o próprio Wolney já ocupava a secretaria-executiva da pasta da Previdência em junho de 2023, quando participou de uma reunião do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) na qual os indícios de irregularidade foram formalmente apresentados. Se havia sinais, por que nada foi feito? Se houve denúncia à Polícia Federal em 2020, como o esquema sobreviveu até 2024?

R$ 2,5 bilhões bloqueados — e o resto?

O governo diz ter bloqueado R$ 2,5 bilhões dos fraudadores. Mas não há clareza sobre quanto exatamente foi desviado, nem sobre os critérios adotados para buscar o ressarcimento. A fala de Wolney de que os criminosos vão pagar a conta soa bem nos microfones, mas encontra pouco respaldo nos fatos. Como responsabilizar empresas que já sumiram do mapa ou laranjas que nada têm a perder. 

Pior: até agora, não há uma única medida concreta que garanta que o dinheiro será efetivamente devolvido aos aposentados. Não há cronograma, política pública ou sequer uma proposta legislativa clara.

O silêncio ensurdecedor do Planalto

A ausência de manifestações contundentes do presidente Lula ou de lideranças do governo sobre o caso é sintomática. Parece haver mais preocupação em blindar aliados do que em proteger os brasileiros que confiaram no INSS para uma aposentadoria digna. A queda de Carlos Lupi, embora necessária, está longe de ser suficiente para limpar o estrago.

O escândalo da Previdência é mais do que um caso de corrupção. É um retrato do abandono institucional de um dos pilares do Estado brasileiro. Wolney Queiroz, agora no centro da pressão, tem a chance de mudar esse cenário. Mas para isso, precisará fazer muito mais do que responder a convocações: terá de entregar respostas — e ações concretas.


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