
A decisão da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados de não mover uma palha para proteger Carla Zambelli (PL-SP) é mais do que jurídica — é política. A deputada foi jogada aos leões não por acaso, mas por conveniência. A blindagem parlamentar, por ora, tem destinatários seletivos. E Zambelli não é mais um deles.
O PL ainda tentou acionar a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), pedindo que se discutisse a aplicação da imunidade parlamentar no caso. Mas o presidente da Casa, Hugo Motta, simplesmente ignorou o pedido. Um gesto silencioso, porém eloquente: a Câmara não quer pagar o preço de defender uma aliada tóxica e desgastada.
STF bate o martelo, Câmara assiste em silêncio
Condenada a 10 anos de prisão por crimes digitais ao lado do hacker Walter Delgatti Neto, Zambelli sofreu derrota unânime no STF. O ministro Alexandre de Moraes foi direto: os crimes ocorreram no mandato anterior, logo, a imunidade não se aplica.
Enquanto isso, na Câmara, o silêncio predominou. Nenhum esforço real para sustar o processo, nenhuma manobra regimentar. A mesma instituição que suspendeu a ação penal contra Alexandre Ramagem tratou Zambelli com frieza cirúrgica.
O peso do passado e o cálculo político
Zambelli já era um problema. Desde que sacou uma arma e perseguiu um homem negro em plena rua, às vésperas do segundo turno de 2022, a parlamentar passou a ser vista como um fardo político até por seus pares. Não é só o STF que perdeu a paciência. Boa parte do Centrão também.
Na prática, o que a Câmara diz é simples: quem se queima demais vira cinza. E não se acende fogo novo com o que já virou carvão político.
PL ainda tenta, mas o jogo virou
Ainda assim, o PL insiste em salvar o que restou. A nova cartada é envolver o União Brasil, cujo ministro Juscelino Filho também está na berlinda. O partido avalia recorrer à Câmara para tentar blindar o ministro acusado de usar verba do Orçamento Secreto para beneficiar propriedades da própria família.
Há, portanto, uma tentativa de troca: você protege o meu, eu protejo o seu. Mas o tempo político de Zambelli parece ter passado. E, diferente de outros quadros do bolsonarismo, ela já não mobiliza lealdade suficiente nem medo político em Brasília.