
O Brasil testemunhar a criação de um novo e perturbador conceito hospitalar: a “UTI-palanque”. Internado há duas semanas no hospital de luxo DF Star, da Rede D’Or, em Brasília, após uma cirurgia de 12 horas, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) transformou o que deveria ser um ambiente de tratamento rigoroso em um espetáculo de irresponsabilidade e desprezo pelas regras médicas. Ignorando completamente os cuidados contra infecção hospitalar. Provocando riscos não apenas à sua própria saúde, mas também à de outros pacientes, que nada têm a ver com o espetáculo montado.
O cenário chegou a episódios ainda mais bizarros, uma oficial de Justiça intimou Bolsonaro dentro da UTI ( Unidade de Terapia Intensiva) e acabou protagonizando uma troca de agressões verbais com o ex-presidente. Vale ressaltar que, em um ambiente hospitalar, a autoridade máxima são os médicos. A servidora do Judiciário, que nada tinha a ver com os embates entre Bolsonaro e o ministro Alexandre de Moraes, só entrou na UTI porque alguém no hospital autorizou, em mais uma demonstração do completo descontrole sobre o ambiente que deveria ser reservado ao tratamento de saúde
A destruição dos protocolos médicos
Desde o fim do procedimento cirúrgico, Bolsonaro ocupa a Unidade de Terapia Intensiva como se estivesse em casa: grava vídeos seminu, com fios, sondas e sensores expostos; promove encontros políticos; recebe dezenas de visitantes — todos sem qualquer equipamento de proteção —; concede entrevistas; faz lives; anuncia produtos e, em um dos episódios mais grotescos, chegou a improvisar um forró no local. Transformou o ambiente hospitalar, que deveria ser dedicado ao tratamento e à recuperação, em seu palanque pessoal.
Em qualquer hospital comprometido com a saúde pública, o comportamento de Jair Bolsonaro seria tratado como uma afronta intolerável. A situação ultrapassa o limite do surreal: o ex-presidente não só ignora protocolos básicos, como transforma a UTI em cenário de guerra política, permitindo que aliados — como seu filho, Eduardo Bolsonaro — ameacem abertamente ministros do Supremo Tribunal Federal dentro de um ambiente que deveria ser dedicado à vida e à recuperação.
Como se não bastasse, o ex-presidente ainda organizou um forró improvisado dentro da UTI, ao som de seu ex-ministro sanfoneiro. Tudo isso enquanto deveria estar isolado, em recuperação, sob rígidos protocolos médicos para evitar infecções.
Um risco mortal
Em qualquer hospital minimamente comprometido com a vida, o comportamento de Bolsonaro seria considerado inaceitável. Infecções hospitalares são um dos maiores riscos em unidades de terapia intensiva; cada visita desprotegida, cada transmissão ao vivo, cada palanque improvisado multiplica exponencialmente esse perigo.
Mas, no DF Star, a medicina se ajoelhou diante do espetáculo político. A UTI, que deveria ser um espaço de cuidado e seriedade, foi transformada em um cenário de desmoralização da ciência, da saúde pública e da própria instituição hospitalar.