
Enquanto o governador de Minas Gerais, Romeu Zema(Novo), se alinha politicamente ao ex-presidente norte-americano Donald Trump, o estado que governa poderá amargar um prejuízo bilionário como efeito direto das medidas protecionistas do republicano. Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que a guerra tarifária entre Estados Unidos e China pode causar uma perda de até R$ 1,1 bilhão no Produto Interno Bruto (PIB) mineiro.
A análise, conduzida pelos economistas Edson Domingues, João Pedro Revoredo e Aline Magalhães, considera os pacotes tarifários anunciados por Washington e Pequim até 11 de abril deste ano. Entre eles, estão a elevação das tarifas dos EUA para até 145% sobre produtos chineses e a aplicação de 10% para todos os países, além da retaliação da China, que passou a taxar produtos americanos em até 125%. A tarifa de 25% sobre aço e automóveis imposta pelos EUA a países como o Brasil também entra no cálculo.
Minas está entre os mais afetados
Segundo a pesquisa, Minas Gerais será o terceiro estado mais prejudicado pela escalada protecionista de Trump, atrás apenas de São Paulo (R$ 4,1 bilhões) e Rio de Janeiro (R$ 1,3 bilhão). O impacto atinge diretamente setores fundamentais para a economia mineira: agropecuária (-0,78% do PIB setorial), indústria de transformação (-0,28%), construção civil (-0,24%) e indústria extrativa (-0,16%).
Alinhamento ideológico cobra seu preço
A relação de Zema com Trump não é apenas de simpatia política. O governador chegou a comemorar publicamente a vitória do republicano nas eleições de 2024, apesar do desgaste internacional do então presidente. Agora, a política externa nacionalista e agressiva do ex-presidente americano atinge em cheio a economia do estado mineiro — que tem nos EUA e na China seus principais parceiros comerciais.
Em 2023, a China respondeu por 30,7% das exportações de Minas, enquanto os EUA foram destino de 11,3%. Apenas com café, os mineiros faturaram US$ 472 milhões com os americanos no período analisado. Outros produtos estratégicos exportados para os EUA incluem aço e minério de ferro.
Efeito dominó: desindustrialização e desemprego
Além da retração econômica, os pesquisadores alertam para o risco de uma aceleração da desindustrialização. Com a guerra tarifária, a indústria brasileira — que já opera em desvantagem — pode perder ainda mais espaço para importações de produtos baratos, principalmente da China. Segundo o estudo, Minas, São Paulo e Rio concentram os maiores parques industriais do país e, por isso, são os mais vulneráveis.
Enquanto isso, outros ganham
A pesquisa também aponta que outros estados — principalmente do Centro-Oeste e do Nordeste — poderão se beneficiar do novo cenário internacional. O Mato Grosso, por exemplo, pode ter um crescimento de R$ 5,3 bilhões no PIB. Maranhão, Piauí, Mato Grosso do Sul e Goiás também registrariam ganhos expressivos.
Esses dados expõem uma desigualdade regional que deve se acirrar ainda mais. Para os pesquisadores, o Brasil precisa reavaliar suas relações comerciais e buscar parceiros além dos Estados Unidos e da China, com foco na exportação de produtos de maior valor agregado, e não apenas commodities.
Realidade econômica ignora o discurso
O discurso liberal do governo de Minas entra em choque com a realidade econômica imposta pelas medidas do ex-aliado americano. Enquanto o Palácio Tiradentes segue celebrando políticas de livre mercado e alinhamento com os EUA, a prática mostra que o protecionismo de Trump impõe barreiras reais à produção e ao emprego em Minas Gerais.