
Discreto, articulado e com trânsito livre pelos corredores do Vaticano, Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Salvador (BA), é hoje um dos nomes mais citados nas rodas reservadas da Santa Sé quando o assunto é sucessão papal. Especialistas apontam que Sérgio já teria pelo menos 15 indicações na primeira rodada do conclave.
Aos 65 anos, o brasileiro ocupa um posto estratégico na hierarquia da Igreja: é o único latino-americano no atual Conselho de Cardeais (o chamado G-9), um núcleo de confiança que auxiliava diretamente o Papa Francisco nas reformas da Cúria Romana. Sua presença ali vai além do prestígio; é um símbolo da confiança do Papa Francisco em sua liderança e visão pastoral.
A relação de confiança com Francisco e a figura de "afilhado"
Francisco o nomeou cardeal em 2016, e desde então, Dom Sérgio se consolidou como uma figura de confiança e continuidade no Vaticano. Nos bastidores da Santa Sé, é tratado como o “afilhado” do Papa Francisco, alguém moldado sob a mesma lógica pastoral e diplomática que marcou o atual pontificado: uma Igreja voltada para as periferias, com ênfase na escuta e no diálogo, sempre em busca de renovação sem rupturas.
Influência na Cúria Romana: um nome de peso no Vaticano
A atuação de Dom Sérgio vai muito além das questões litúrgicas. Ele ocupa posições de destaque em órgãos decisivos da Igreja, como a Congregação para o Clero, o Conselho Ordinário da Secretaria-Geral do Sínodo dos Bispos e a Pontifícia Comissão para a América Latina. Seu perfil conciliador, institucional e bem preparado o coloca como uma opção sólida, respeitada por diversos setores dentro da Igreja.
No entanto, o caminho para o papado não é simples. O arcebispo de Salvador ainda enfrenta dois desafios cruciais: a geopolítica e sua idade.
O primeiro obstáculo é a geopolítica. Francisco já quebrou uma tradição secular ao ser o primeiro Papa vindo de fora da Europa em mais de mil anos. Agora, parte do Colégio de Cardeais defende que a Igreja deve seguir reforçando sua diversidade, escolhendo um Papa de outro continente. Além disso, há quem defenda que o Vaticano retorne a um pontífice europeu, em busca de uma maior estabilidade interna.
O segundo entrave é a idade de Dom Sérgio. Aos 65 anos, ele é considerado jovem para os padrões vaticanos. Em conclaves passados, cardeais mais velhos, vistos como figuras de transição, são os preferidos para evitar pontificados longos demais. Dom Sérgio, portanto, representaria um projeto de longo prazo, o que pode causar resistência, especialmente entre os setores mais conservadores da Igreja.
A força da bancada latino-americana no conclave
Apesar desses desafios, os números jogam a favor de Dom Sérgio. O Brasil, é um maiores países católico do mundo, com mais de 123 milhões de fiéis, tem um peso significativo dentro da Igreja. No Colégio Eleitoral do conclave, composto por 120 cardeais com menos de 80 anos, sete são brasileiros. Isso garante a Dom Sérgio um apoio expressivo, principalmente quando se considera a crescente influência da América Latina dentro do Vaticano.
Além disso, Francisco, que indicou pessoalmente 108 desses 120 cardeais eleitores, estabeleceu um ambiente propenso à continuidade de sua visão, o que coloca Dom Sérgio em uma posição estratégica para, se não for o próximo Papa, ser uma figura central na escolha do sucessor.
A trajetória de Dom Sérgio: de Dobrada a Salvador
Nascido em 1959 em Dobrada (SP) e criado em Brasília, Dom Sérgio iniciou sua formação religiosa no seminário da Pontifícia Universidade Católica de Brasília (PUC-DF) em 1974. Ordenado sacerdote em 1981, ele atuou em diversas funções dentro da Arquidiocese de Brasília, incluindo paróquias e coordenação de movimentos pastorais. Em 2003, foi nomeado bispo auxiliar de Brasília e, em 2011, tornou-se arcebispo de Teresina. Em 2016, foi transferido para a Arquidiocese de Salvador, onde ocupa seu atual cargo.