Papa Francisco
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Papa Francisco


A morte do Papa Francisco (Jorge Bergoglio), aos 88 anos, certamente desencadeia um processo profundo e simbólico para a Igreja Católica e seus fiéis. O conclave, com seus rituais e tradições, é um momento de grande expectativa e, muitas vezes, de intrigas nos bastidores. O filme "Conclave " (2024) aprofunda essa temática, utilizando ficção para explorar as complexas dinâmicas de poder que permeiam a escolha de um novo pontífice.

Com elementos como articulações políticas, distribuição de dossiês, escândalos sexuais e discussões acaloradas entre os cardeais, o longa faz uma crítica contundente às tensões que podem existir entre a espiritualidade e a realidade terrena da política e do poder dentro do Vaticano. Essa abordagem não só entretém, mas também provoca reflexão sobre como essas questões podem influenciar a liderança da Igreja.

Pelas regras do Vaticano, só podem votar cardeais com menos de 80 anos. São no máximo 120 — dez deles brasileiros. Eles se recolhem na Casa Santa Marta, no Vaticano, em isolamento absoluto. Sem celular, sem imprensa, sem influência externa. A promessa é de um processo guiado pelo Espírito Santo. Mas é impossível ignorar os interesses humanos — e políticos — que se impõem entre as batinas.

É nesse cenário que Conclave constrói seu suspense. O cardeal Thomas Lawrence, protagonista do filme, se vê no centro de um jogo de forças que mistura segredos explosivos, dilemas morais e uma trama de corrupção que ameaça desmoronar as estruturas da Igreja. O roteiro não tem pudor em tocar em feridas: abusos sexuais, manipulação de informações, chantagens e vaidades que rivalizam com a fé.

Um filme político com cheiro de encíclica

O longa assume a forma de filme, mas o que se vê é quase uma encíclica laica sobre poder, hipocrisia e fé. A figura do Papa, ao fim, parece menos divina e mais simbólica de uma instituição que luta pela própria relevância — e pela sua alma.

Não à toa, o filme incomoda. Não pela crítica à fé, mas pela crítica à cúpula e à maneira como decisões cruciais são tomadas de forma oculta, longe dos olhos do público, em um ritual que pode parecer espiritual, mas que está carregado de interesses terrenos.

Entre o púlpito e a política: o que está em jogo agora

Com a cadeira de Francisco vazia, e os cardeais prestes a se recolher, a pergunta que ecoa não é apenas quem será o novo Papa, mas que Igreja ele herdará. Uma Igreja que lida com escândalos, com perda de fiéis, com o avanço do conservadorismo político e com pressões por reformas internas que jamais vieram de forma plena.


O filme joga luz sobre essa complexidade. E a vida, agora, oferece um novo capítulo dessa história. A diferença é que, fora das telas, não há roteiro garantido — e muito menos final feliz.


O peso do Brasil: Dez cardeais com direito a votar e a serem votados

Embora o processo do conclave seja secreto, a geopolítica da fé fala alto, o Brasil tem peso. Com cerca de 123 milhões de católicos, o país continua sendo a maior nação católica do mundo. E, agora, dez cardeais brasileiros têm direito a voto na escolha do novo Papa.

Entre eles, nomes que representam diferentes correntes dentro da Igreja: desde figuras mais progressistas, ligadas a pautas sociais, até expoentes do conservadorismo, que se aproximam de lideranças políticas da direita nacional.

Um dos mais influentes é Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Salvador, que já integrou o Conselho de Cardeais do Papa Francisco. Outro nome de peso é Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, considerado há anos um "papável" nos bastidores do Vaticano. Há ainda Dom Orani Tempesta(Rio de Janeiro), Dom João Braz de Aviz, que atua na Cúria Romana, e outros representantes de diversas regiões do país.

O que esses cardeais carregam não é apenas seu voto. Carregam as expectativas de um continente que viu o primeiro Papa latino-americano tentar reformar a Cúria — e enfrentar resistências internas quase intransponíveis.

Se a Igreja quer se reinventar, como Francisco tentou, será preciso mais do que fumaça branca: será preciso coragem. O futuro da Igreja — e o papel do Brasil nela — será definido em silêncio, mas seus efeitos ecoarão por décadas.



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