
O avanço das investigações sobre o Banco Master e a prisão do banqueiro Daniel Vorcaro acenderam um sinal de alerta cada vez mais intenso em Brasília. Antes de ser detido, Vorcaro confidenciava a aliados que revelaria “toda a história” do Master caso a venda da instituição fosse rejeitada. Agora, após ser preso tentando deixar o País em um jatinho particular, a possibilidade de uma delação premiada voltou a rondar os gabinetes do poder, alimentando apreensões sobre quem pode ser arrastado para o centro desse enredo e quais segredos podem vir à tona.
Vorcaro mantinha trânsito intenso em gabinetes de Brasília, especialmente com figuras do centrão. Entre seus contatos mais próximos estava o senador e ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro (PL), Ciro Nogueira (PP), que sempre atuou como articulador político de grande alcance no Congresso.
A crise explodiu depois que o Banco Central decretou a liquidação do Master e que a Polícia Federal identificou R$ 12,2 bilhões em ativos podres, carteiras de crédito sem valor real.
A tentativa de venda para a holding Fictor, anunciada às pressas na noite de segunda-feira (17) mostrou que Vorcaro já via a liquidação — e a própria prisão — como iminentes.
A precipitação, porém, pesou contra ele. O BC estranhou o anúncio enviado à imprensa antes de qualquer tratativa com o órgão regulador, que precisaria aprovar a operação. Com a revelação dos créditos sem valor, o comunicado tornou-se inútil. O BC liquidou o banco, e a PF pediu — com aval da Justiça — a prisão do dono do Master.
O papel do BRB e os pontos que permanecem no escuro
Entre os elementos mais sensíveis do caso está o envolvimento do Banco Regional de Brasília (BRB). O presidente da instituição, Paulo Henrique Costa, acabou afastado, embora o pedido de prisão contra ele tenha sido negado. A grande dúvida permanece: como o BRB adquiriu R$ 12 bilhões em créditos do Master, incluindo títulos com datas aparentemente adulteradas.
O Banco Central ordenou que o Master devolvesse os valores ao BRB, o que teria sido feito pela venda de ativos e aportes dos próprios acionistas. Ainda assim, não há confirmação de que o dinheiro voltou por completo — e a possibilidade de um rombo adicional no BRB não está descartada. Vale lembrar que o BC já havia barrado, em março, a operação anunciada entre as duas instituições.
Relações políticas e a promessa que inquieta o poder
Com larga circulação em Brasília, Vorcaro sempre se apresentou como um empresário alvo de perseguição por enfrentar grandes bancos. Aos mais próximos, repetia que, se fosse derrubado, abriria o jogo sobre “toda a história” do Master.
Agora, preso e cercado por suspeitas que incluem documentos manipulados, créditos fictícios e operações mal explicadas, seu silêncio — ou a quebra dele — tornou-se um fator político. A pergunta que circula nas rodas de poder é direta e incômoda: se Daniel Vorcaro decidir colaborar com as autoridades, quem pode ser arrastado pela correnteza?