As movimentações recentes do ex-presidente Jair Bolsonaro indicam uma postura estratégica em relação à eleição presidencial de 2026. Segundo lideranças do Centrão que estiveram com ele, a decisão sobre lançar candidatura de familares dependerá diretamente da força de Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas.
Se o presidente chegar ao início de 2026 bem posicionado, Bolsonaro tende a apoiar Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo. Caso Lula apareça fragilizado, a aposta pode recair sobre nomes da própria família, como Michelle Bolsonaro ou Eduardo Bolsonaro.
Essa decisão revela um pragmatismo eleitoral que considera não apenas a competitividade de Lula, mas também as condições políticas e jurídicas do próprio Bolsonaro, que enfrenta investigações e restrições que podem influenciar sua elegibilidade.
Tarcísio busca consolidar protagonismo nacional
Paralelamente, Tarcísio de Freitas vem dando sinais claros de que pretende construir uma trajetória política com maior autonomia. Sua participação em eventos internacionais, como o encontro com empresários em Nova York, reforça a intenção de se projetar nacionalmente, com ou sem o apoio direto de Jair Bolsonaro.
A reação do ex-presidente a esses movimentos foi de distanciamento. Em declarações públicas, Bolsonaro relativizou a capacidade de Tarcísio, ressaltando que o governador “não seria nada sem seus votos” e apontando falta de experiência. Esses posicionamentos indicam um possível esfriamento na relação entre os dois, embora Tarcísio ainda mantenha posturas políticas alinhadas com o campo conservador.
Filiação de Derrite ao PP marca nova etapa
A recente filiação do secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, ao PP, em um evento com ampla presença de lideranças do Centrão, simbolizou mais um passo nesse processo de diferenciação. O evento serviu não apenas para projetar Derrite como potencial candidato ao Senado, mas também para afirmar a capacidade de articulação política de Tarcísio, independentemente do clã Bolsonaro.
Esse movimento sugere que o governador paulista busca diversificar suas alianças, ampliando sua base política para além do “bolsonarismo raiz”, embora ainda mantenha proximidade ideológica com esse campo.
Cenário de reconfiguração na direita
A direita brasileira se aproxima de um momento de possível reconfiguração. De um lado, Bolsonaro avalia cuidadosamente seus próximos passos, condicionando sua candidatura à conjuntura política e ao desempenho de Lula. De outro, Tarcísio avança na construção de um espaço próprio, dialogando com setores do empresariado e do Centrão, e preparando-se para eventual candidatura presidencial.
Nos próximos meses, será decisivo observar como se consolidarão essas movimentações, bem como a reação do eleitorado conservador diante de uma possível divisão entre os principais líderes da direita.