
Uma operação conjunta entre o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e a Polícia Federal revelou um caso estarrecedor em Planura, município de pouco mais de 11 mil habitantes no Triângulo Mineiro. Três homens — que mantinham uma relação poliafetiva, formando um trisal — foram presos em flagrante por submeterem duas pessoas, um homosexual e uma mulher trans, uruguaia, a condições desumanas de trabalho, cárcere e abusos sexuais.
Os suspeitos, um contador, um administrador e um professor, formam um trisal. Eles aliciaram um homem homossexual do nordeste, de 32 anos, e uma mulher transgênero uruguaia, de 29, com promessas de trabalho em troca de moradia e alimentação, além da oportunidade de terminar o ensino médio e fazer cursos profissionalizantes na instituição de ensino que mantinham na cidade.
O aliciamento e a descoberta
As investigações tiveram início após o recebimento de denúncias ao MTE, que relatavam a existência de estrangeiros mantidos em regime de trabalho forçado. A apuração revelou um cenário de terror: as vítimas eram recrutadas por meio de redes sociais, com promessas de emprego, nova vida no Brasil e envolvimento amoroso. No entanto, ao chegarem a Planura, encontravam cárcere privado, espancamentos e exploração sexual.
As diligências ocorreram entre os dias 8 e 15 deste mês, mas os resultados foram divulgados apenas agora. Durante o resgate, os agentes constataram que as vítimas não recebiam qualquer remuneração e viviam em condições precárias de moradia.
Em um dos episódios mais revoltantes, o homem foi obrigado a tatuar no braço as iniciais dos agressores, como marca de "propriedade". Já a mulher trans, vítima de agressões constantes, chegou a sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) em decorrência dos maus-tratos.
Orgias forçadas e terror psicológico
Segundo o inquérito, além dos trabalhos forçados, as vítimas eram coagidas a participar de orgias com o trisal, sendo submetidas a práticas sexuais degradantes. A investigação detalha um ciclo de abusos físicos, sexuais e emocionais, configurando um dos casos mais graves de violação de direitos humanos na região nos últimos anos.
Após o resgate, as vítimas foram encaminhadas à Clínica de Enfrentamento ao Trabalho Escravo, um programa de acolhimento e reabilitação gerido pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em parceria com o Centro Universitário Presidente Antônio Carlos (UNIPAC) . No local, elas recebem atendimento médico, psicológico e suporte jurídico.
Os três acusados, presos em flagrante, passaram por audiência de custódia e permanecem detidos em unidade penitenciária de Minas Gerais. Eles deverão responder por crimes de redução à condição análoga à escravidão, sequestro, cárcere privado, lesão corporal, tortura e abuso sexual.