
Ao visitar o Vietnã , em 2017, percebi que o país caminhava rapidamente em direção a futuro econômico promissor. A abertura ao turismo era um fenômeno relativamente recente. Visitantes de várias nacionalidades, sobretudo europeus, descobriam nas andanças a existência de uma economia em ebulição, situação verificada principalmente nas grandes metrópoles, como Ho Chi Min City (antiga Saigon, ao sul) e Hanói (ao norte). As cenas de milhares de motociclistas, carregando pessoas e objetos os mais variados, impactavam quem deparava com o caos organizado da mobilidade urbana.
Transitar pelo país em sua inteireza, utilizando meios de transportes próprios dos nativos, especialmente o trem, permite se encantar por destinos peculiares que se complementam em suas diferenças. A comida vietnamita, rica em vegetais e frutos do mar, proporciona uma dieta saudável e saborosa. O prato típico é o Pho, originário da região norte, sopa que une macarrão de arroz, pedaços de carne e vegetais.
Passeios no delta do Rio Mekong , área famosa pelos combates travados entre os vietcongues e os americanos, revisitam uma história de sofrimento e destruição. A cidade antiga de Hoi An oferece a visão peculiar das lanternas, que produzem iluminação ambiental charmosa, estimulando os afetos. Além desse atrativo, a localidade é terra de alfaiates, hábeis em fazer qualquer figurino indicado pelo cliente, em prazos da conveniência do comprador.
A Baia de Ha Long é composta de várias ilhotas, com numerosas praias, grutas e cavernas. Impressiona pela beleza e preservação. Oferecidos pequenos cruzeiros pela região, passeios imperdíveis. Hue é a antiga capital, localizada no centro do país. Nela a Cidade Imperial se encontra cercada por uma muralha, abraçando a arquitetura medieval. Na cidade costeira Nha Trang se destacam o porto e as instituições de ensino de referência.
O país se apresenta ao mundo como um destino rico em diversidade ambiental e urbana. Alterna florestas tropicais e planícies alagadas próprias ao plantio do arroz. Abriga construções medievais em contraste harmônico com edificações modernas. Possui um povo com os olhos voltados para o futuro, consciente de seu passado de opressão e resistência.
Guerra e superação
O Vietnã deixou no passado as mazelas do colonialismo e da guerra para se tornar um dos mais interessantes países emergentes. Situado na península da Indochina, faz fronteira com a China, o Laos e o Camboja. Com população de mais de 90 milhões de habitantes, tem como capital – desde sua reunificação, ocorrida em 1976 – Hanói, localizada ao norte do seu território.
O Vietnã ficou em evidência pelo conflito armado com os Estados Unidos, ocorrido nos anos 60 e 70. O confronto envolveu o então Vietnã do Norte, apoiado por potências comunistas, e o Vietnã do Sul, aliado dos americanos. O confronto surgiu no contexto de independência vietnamita em relação ao colonialismo francês, situação agravada pela guerra fria.
Nos sangrentos combates, estima-se que em torno de três milhões de vietnamitas, entre civis e militares, perderam a vida. Pelo lado americano, 58.000 soldados morreram. Sob a liderança das forças do norte, exercida por Ho Chi Min, o país recuperou sua unidade e se autointitulou socialista. A guerra promovida pelos Estados Unidos contra o país asiático é considerada um dos maiores equívocos de sua história bélica. Os EUA gastaram 200 bilhões de dólares em quinze anos, tiveram baixas significativas – embora bem menores do que o oponente - e acabaram derrotados.
Reformas e crescimento econômico: parcerias e visão brasileira
Com estabilidade política e rumo econômico pragmático, o Vietnã aproveitou o crescimento exponencial da vizinha China e aumentou seu produto interno bruto, nos últimos vinte anos, em aproximadamente dez vezes. É um exemplo extraordinário de crescimento acelerado e estável.
Após período de planejamento estatal da economia, a partir dos anos 90 o Vietnã implementou reformas econômicas e firmou acordos de livre comércio com parceiros da Ásia e da Europa, iniciativas que criaram ambiente favorável aos negócios privados. Investimentos estrangeiros foram atraídos com isenções fiscais, desburocratização e incentivos ao uso da terra.
A mudança no patamar de desenvolvimento do país teve como fato indutor a reforma educacional de 2013. A mudança criou diretrizes no estímulo à inovação na gestão educacional, valorizou a atividade docente e baseou-se na investigação científica. Com a elevação do nível de ensino, o país qualificou sua mão de obra e se inseriu, em larga escala, na produção de equipamentos eletrônicos.
Mesmo com o crescimento da economia industrial, o Vietnã não deixou de preservar e incrementar sua vocação agrícola, agregando às tradicionais exportações de arroz o comércio de café, hortaliças, camarão e madeira.
A manutenção de patamares elevados de crescimento econômico, a posição geográfica estratégica e a estabilidade política colocam o país como um player relevante no mercado mundial.
A recente visita do Presidente Lula ao país asiático, com passagem também pelo Japão, demonstra a percepção da diplomacia brasileira quanto à relevância vietnamita no atual contexto econômico e geopolítico. Como resultado das tratativas, o governo anunciou que o Vietnã abriu o mercado para receber a carne bovina brasileira. A expectativa é que, em 2030, o comércio entre os dois países atinja o patamar de 15 bilhões de dólares.