Rodrigo Lopes

MPT investiga denúncias de assédios moral e acidentes na Fiat-MG

Após a fusão entre Peugeot e Fiat, que criou a gigante Stellantis, funcionários da montadora relatam pressão pelo cumprimento de metas

Fábrica Fiat Betim
Foto: Divulgação/Stellantis
Fábrica Fiat Betim


Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitou as instalações da Fiat em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em um momento delicado para os funcionários da montadora.

A fusão entre a Fiat e a Peugeot, que deu origem à gigante Stellantis , tem impactado diretamente a rotina de trabalho, com denúncias de assédio moral e condições de trabalho cada vez mais desafiadoras.

Após a integração das duas fabricantes, muitos empregados da Fiat em Minas Gerais relataram um aumento significativo na pressão por metas, além de um tratamento desrespeitoso por parte da gestão e um aumento expressivo no número de acidentes de trabalho. A situação levou a um crescente número de demissões voluntárias, com funcionários buscando melhores condições em outros setores.

O Ministério Público do Trabalhoa (MPT) abriu três procedimentos investigatórios este ano, sob a responsabilidade dos procuradores Aurélio Agostinho e Victorio Álvaro Coutinho Rettori, para apurar as denúncias que envolvem a falta de respeito aos direitos trabalhistas e o assédio moral nas instalações da empresa.



Alterações na dinâmica de trabalho

Com a fusão que formou a Stellantis, houve mudanças significativas na estrutura das empresas e na dinâmica de trabalho.

A nova empresa, agora responsável por 14 marcas de veículos, incluindo Fiat, Peugeot, Jeep, Maserati, entre outras, trouxe um aumento nas demandas, com funcionários precisando atender a uma carga de trabalho maior e a desafios adicionais, como fusos horários internacionais.

“Antes, eu trabalhava apenas para a Fiat Brasil, agora atendo a demanda de outras fábricas ao redor do mundo. O número de empregados caiu drasticamente e, ao mesmo tempo, as responsabilidades aumentaram. A pressão por metas nunca foi tão intensa”, revelou um funcionário da Fiat, que preferiu manter o anonimato.

A situação tem gerado uma atmosfera de tensão, em que a falta de reconhecimento e as condições de trabalho precárias são temas recorrentes nos relatos dos colaboradores.

A junção entre PSA e Fiat-Chrysler, que formou a Stellantis, busca gerar economias de até 5 bilhões de euros por ano, mas, para muitos trabalhadores, os benefícios dessa sinergia ainda estão longe de serem perceptíveis.

Sindicato diz acompanhar os casos 

O Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, que representa os empregados da Fiat na região, se posicionou publicamente sobre as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores.

Em nota, a entidade afirmou estar ciente dos desafios e reiterou seu compromisso com a defesa dos direitos trabalhistas.

“O Acordo Coletivo de Trabalho firmado entre o Sindicato e a Fiat prevê cláusulas robustas para garantir a proteção dos trabalhadores em relação às condições de trabalho mencionadas”, disse o sindicato, que também busca soluções para os problemas apresentados pelos empregados, tanto pelas vias administrativas quanto judiciais.

Assédio moral e a necessidade de respeito no ambiente de trabalho

O assédio moral, prática condenada por especialistas, tem sido uma das maiores preocupações para os trabalhadores da Fiat em Betim.

Diversos relatos apontam para um ambiente hostil, onde a pressão por resultados muitas vezes ultrapassa os limites do razoável, resultando em um estresse constante e um impacto negativo na saúde dos colaboradores.

“Os funcionários da Fiat em Minas Gerais merecem um ambiente de trabalho saudável, onde possam realizar suas funções com dignidade e respeito. É inadmissível que situações de assédio moral e exploração sejam toleradas”, afirmou um representante da área trabalhista.

O futuro da Stellantis e os impactos na força de trabalho

A fusão entre PSA e Fiat-Chrysler resultou na criação da Stellantis, agora a quarta maior montadora do mundo, com uma estimativa de 8 milhões de veículos vendidos por ano.

Entretanto, a sinergia que promete gerar economias substanciais também traz desafios como a queda nas vendas em alguns mercados e a necessidade de adaptação das fábricas à transição para a eletrificação dos veículos.

Embora países como França e Itália tenham elogiado a união e o governo italiano tenha até considerado a possibilidade de entrar no capital da empresa, a realidade enfrentada pelos trabalhadores em Minas Gerais levanta questões sérias sobre a implementação de mudanças sem o devido respeito aos direitos laborais.

Procurada, a montadora não se manifestou.