
Relatório do Centro de Hidrografia e Navegação do Oeste – departamento de monitoramento da Marinha do Brasil — aponta que o Pantanal do Mato Grosso do Sul já enfrenta a maior seca dos últimos 100 anos. Segundo o relatório, o nível acumulado de precipitação no rio Paraguai, o principal do P antanal, deve ficar entre 700 e 800 mm até junho, ao encerrar o ciclo das cheias, que se inicia em outubro .
Esse índice, que gerará um déficit hídrico, fica abaixo dos 1.113 mm atingidos em 2021, quando as chamas das queimadas destruíram grande parte da vegetação, matando e ferindo onças e outros animais.
“O fato reveste de grande relevância, uma vez que o baixo nível do rio Paraguai pode causar limitações à navegação na hidrovia Paraguai-Paraná e gerar o aumento significativo da ocorrência de incêndios e outros desastres ambientais no Pantanal”, destaca o relatório.
A previsão da Marinha já se tornou realidade
Segundo imagens e depoimentos feitos e repassadas por fazendeiros da região, o s focos de fogo atingem principalmente os brejos do rio Aquidauana. “Como o local é de difícil acesso, os Bombeiros estão tentando apagar o fogo sem sucesso há mais de dois meses”, afirmou o médico veterinário Nílson de Barros, fundador da Sociedade de Defesa do Pantanal ( Sodepan ), uma organização não governamental.
Na região de Corumbá/MS, as imagens mostram ainda que as margens do rio Paraguai, antes cobertas por matas ciliares, estão tomadas por bancos de areia, que podem provocar o assoreamento do rio. Com a experiência de ter chefiado a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Corumbá/MS, o maior centro de pesquisa do Pantanal, Barros afirma que a seca está ocasionando a proliferação de pragas, como de um percevejo antes ausente na região.
Essas pragas estão matando as raízes dos pastos. “Depois de seco, o pasto, que nunca mais vai se recuperar, se transforma em um barril de pólvora, ocasionando focos de incêndio. Isso ocorreu nos anos 19 60. Só que na época, havia o gado que comia todo esse material acumulado. O que não acontece hoje, porque os fazendeiros estão abandonando suas propriedades devido às pragas”, afirma.
Barros está entre os pesquisadores e fazendeiros que acreditam que o boi pantaneiro, chamado de “boi Bombeiro”, ajuda na preservação do meio ambiente. A expressão “boi pantaneiro” foi inventada pelo professor de Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul ( UFMS), Arnildo Potti, enquanto ele trabalhava na Fazenda Experimental da Embrapa de Corumbá, na Nhecolândia, região Central do Pantanal.
“ Isso ficou provado em um ano que tiramos o gado do pasto, deixando a área mais tempo alagada. Foi uma tragédia enorme, pois quando a água secou, foi incêndio para todo lado”, conta . Nesses últimos anos, essa tese ganhou força devido às imagens de satélite que comprovaram que muitos focos de incêndio ocorreram em reservas adquiridas por ONGs e que estavam abandonadas. Isso levou a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul a aprovar um projeto do Governo do Estado que passa a responsabilizar, além dos fazendeiros, os donos de reservas por queimadas .
Preparado para enfrentar novas queimadas
Atento ao relatório da Marinha, o coronel aposentado da Polícia Florestal, Ângelo Rabelo, disse que os Bombeiros e organizações não governamentais se preparam para enfrentar novas queimadas esse ano. De acordo com Rabelo, que preside a ONG Fundação Homem Pantaneiro, foram instaladas câmaras com capacidade de prever em três minutos um foco de incêndio em uma área de l milhão de hectares.
Rabelo conta que, além das câmaras do chamado projeto Pantera, os fazendeiros da região estão instalando poços artesianos movidos a energia solar, o que evita de o gado morrer de sede durante o período de seca.
Rabelo guarda no corpo cicatrizes devido à sua luta pela defesa do Pantanal. Na década de 1970, então policial florestal ativo, foi atingido no rosto e nos braços durante uma troca de tiros com os coreiros (caçadores de jacaré). Hoje, a ONG de Rabelo conta com 13 brigadistas de plantão para combater focos de incêndios.
“A experiência com as últimas queimadas nos levou a preparar para evitar que a tragédia se repetisse. Esse ano, pelo menos na Serra do Amolar (onde a ONG de Rabelo está instalada) e em Corumbá, temos conseguido controlar rapidamente o fogo”, disse.
Barros, Rabelo e outros moradores da região são unânimes em dizer que pelo menos até o momento as onças e outros animais, feridos nas últimas queimadas, estão preservados, principalmente devido à proibição da caça predatória. Até mesmo os búfalos, que haviam se refugiado no Chaco (pantanal boliviano), voltaram . A exemplo das onças, eles andam em grupo por toda região pantaneira.
“Tenho visto onças até nas rodovias. Por isso , redobrei os cuidados ao registrar uma imagem com medo de ser atacado por um felino”, afirma o jornalista ambiental Sílvio de Andrade, que mora em Bonito/MS e tem mais de 40 anos de experiência no Pantanal.
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