
Opinião
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos), parece ter uma habilidade incomum para se colocar em situações que desgastam a própria instituição que comanda. Depois das trapalhadas na votação da chamada “PEC da Blindagem” e da redução do Imposto de Renda, Motta volta a errar — desta vez ao indicar Guilherme Derrite (PP-SP) como relator do PL Antifacção.
A escolha, influenciada diretamente pelo p residente do PP, senador Ciro Nogueira, e pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas ( Republicado), é vista nos bastidores como mais um gesto de alinhamento político do que de critério técnico.
Um relator ausente e sem experiência
Embora esteja em seu segundo mandato como deputado federal, Derrite pouco conhece os bastidores de Brasília. Passou a maior parte do tempo licenciado do cargo para comandar a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo — função que assumiu em 2019/2023, retornou brevemente à Câmara em março de 2024, voltou a se licenciar no mesmo mês e só reassumiu agora, em novembro de 2025.
Ou seja, o relator de um dos projetos mais sensíveis da pauta de segurança nacional mal acompanhou o funcionamento da própria Casa nos últimos anos. A indicação é, portanto, mais um erro político evidente de um presidente que parece ter perdido o senso de responsabilidade institucional.
Derrite se perde no próprio relatório
Em meio a críticas crescentes dentro e fora da base governista, Derrite apresentou quatro versões diferentes de seu relatório para o PL Antifacção. Nas versões anteriores, o parlamentar retirava poderes da Polícia Federal (PF) para investigar facções criminosas — recuo que, segundo o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) , não foi suficiente para corrigir os problemas do texto.
“ A quarta versão do substitutivo do PL Antifacção do relator Derrite aprofunda a desorganização normativa e mantém vícios estruturais graves, especialmente ao retirar recursos da Polícia Federal, enfraquecendo o órgão de coordenação nacional e contrariando o espírito da PEC da Segurança Pública” , afirmou Lindbergh em suas redes sociais.
O petista criticou ainda o dispositivo que fragmenta o orçamento destinado ao combate ao crime organizado, o que, na avaliação de especialistas, compromete a integração entre os órgãos de segurança.
Haddad também critica falta de preparo técnico
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também fez duras críticas à condução de Derrite, afirmando que o parlamentar não compreende os mecanismos de inteligência e investigação necessários para o enfrentamento ao crime organizado.
“Nada contra, o deputado não precisa ser especialista em tudo, mas quanto menos você sabe, mais você busca apoio de quem sabe” , afirmou o ministro.
Haddad alertou que a tramitação apressada da proposta ameaça os avanços recentes na integração entre órgãos federais e polícias estaduais. E foi ainda mais contundente ao questionar a capacidade técnica do relator:
“Você vai colocar isso a perder em função do açodamento de um relator que, com todo respeito, não é propriamente uma pessoa que entenda de inteligência, de investigação, não é uma pessoa versada em investigação e inteligência contra o crime organizado.”