Rodrigo Lopes

Bolsonaro aciona estratégia médica para evitar prisão na Papuda

Defesa prepara dossiê médico para tentar evitar sua transferência para penitenciária. Interlocutores espalham versão sobre piora da saúde

Jair Bolsonaro
Foto: Divulgação
Jair Bolsonaro


Começa hoje a análise dos chamados embargos de declaração apresentados pelas defesas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros sete réus após a oficialização da condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O julgamento, que trata do núcleo central do caso, será realizado de forma virtual pela 1ª Turma, sob coordenadação do ministro Flávio Dino, e deve se encerrar na próxima sexta-feira, 14 de novembro.

A expectativa é de que os recursos sejam rejeitados, o que tornaria imediata a execução das penas — no caso de Bolsonaro, 27 anos e três meses de prisão. Diante desse cenário, o ex-presidente mobilizou aliados e advogados em uma ofensiva para tentar evitar o envio ao Complexo Penitenciário da Papuda, onde uma cela já está preparada para recebê-lo.


“Dossiê anti-Papuda”

Enquanto interlocutores divulgam versões sobre uma suposta piora no estado de saúde de Bolsonaro, sua defesa "encomendou" a uma equipe médica — composta por um cirurgião, um clínico-geral e um dermatologista — a elaboração de um documento que vem sendo chamado internamente de “dossiê anti-Papuda”.

O relatório deve descrever um quadro clínico de deterioração da saúde do ex-presidente desde a facada sofrida durante a campanha eleitoral de 2018. Entre os problemas listados estão câncer de pele, refluxo, crises de soluço e vômito, hipertensão, apneia e complicações decorrentes das cirurgias abdominais.

A estratégia seria apresentar o dossiê assim que o STF determinar a transferência de Bolsonaro da mansão onde cumpre prisão domiciliar, no condomínio Solar de Brasília, para a cela na Papuda. O objetivo é tentar justificar a permanência em casa sob alegação de que o estado de saúde seria incompatível com o encarceramento.

Narrativa de vitimização

O senador Flávio Bolsonaro (PL) tem reforçado publicamente a narrativa vitimista do pai. Em entrevistas e postagens, ele responsabilizou o ministro Alexandre de Moraes pela suposta piora no quadro de saúde do ex-presidente.

“Acho que o castigo e a tortura que o Alexandre de Moraes está submetendo o Bolsonaro têm que ter algum limite”, afirmou o senador, sugerindo que o dossiê médico será usado para evitar a transferência para a Papuda . “O mínimo que pode ser feito é deixá-lo em casa, tratando da sua saúde”, completou.

Flávio também vem dramatizando a situação em declarações recentes. Em um podcast, descreveu o pai “igual a um vagabundo” em casa, assistindo televisão com tornozeleira eletrônica.

“É triste. Eu entro em casa e vejo um homem que foi referência pra milhões de brasileiros, ali, cheio de soluço, mal... Dormindo soluçando, carregando a tornozeleira na tomada. A gente sabe que ele não é um vagabundo”, disse.

O julgamento dos embargos declaratórios será o último passo antes do trânsito em julgado da condenação. Caso os ministros mantenham a decisão anterior, a transferência de Bolsonaro para o presídio da Papuda poderá ocorrer de forma imediata.