
No dia 7 de Setembro de 2021, em plena avenida Paulista, o então presidente Jair Bolsonaro fez o que seria um dos discursos mais autoritários de sua trajetória. Entre ameaças golpistas, ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a pregação contra o sistema eleitoral, ele deixou claro que não se tratava apenas de um ato de bravata: havia um projeto em curso.
O alvo: Alexandre de Moraes e o STF
Naquele dia, Bolsonaro mirou especialmente o ministro Alexandre de Moraes, a quem chamou de “canalha”, ameaçando descumprir decisões judiciais. Mais cedo, em Brasília, já havia cobrado que o então presidente do STF, Luiz Fux, “enquadrasse” Moraes, sob risco de “consequências que não queríamos”.
As falas inflamaram apoiadores e alimentaram o discurso de ruptura institucional. Para a Procuradoria-Geral da República, tratava-se de um passo estratégico dentro de um projeto autoritário de longo prazo.
O pedido de impeachment contra Moraes
Poucos dias antes, em 20 de agosto, Bolsonaro havia enviado ao Senado um pedido de impeachment de Moraes. A peça foi rejeitada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, por absoluta falta de fundamento jurídico. O gesto, no entanto, evidenciava a escalada de confrontos com o STF, motivada pelas investigações sobre fake news e ataques ao sistema eleitoral.
O império das fake news
O combustível do golpismo foi a desinformação. Lives semanais, discursos inflamados e peças falsas espalhadas em massa nas redes sociais criaram um ambiente de hostilidade permanente contra o Supremo e o TSE.
Em julho de 2021, Bolsonaro acusou o TSE de fraudes sem apresentar provas e chegou a insultar o ministro Luís Roberto Barroso. Em transmissões, reaproveitava notícias falsas antigas, tentando dar-lhes credibilidade, até ser desmentido pelo próprio TSE e pela imprensa.
O Conselho da República como bravata
No 7 de Setembro, Bolsonaro chegou a afirmar que convocaria o Conselho da República, instância que pode deliberar sobre estado de sítio ou intervenção federal. A declaração, que nunca se concretizou, buscava dar aparência de legitimidade a uma ameaça de ruptura.
Naquele contexto, a segurança da Praça dos Três Poderes precisou ser reforçada. Ministros do Supremo receberam escolta armada, diante do risco real de invasões e agressões.
Quatro anos depois: o alerta que permanece
O julgamento do STF sobre a trama golpista trouxe de volta a lembrança daquele 7 de Setembro. O discurso de Bolsonaro não foi um arroubo isolado, mas parte de um roteiro para corroer a democracia por dentro.
A normalização de ataques às instituições, somada à tolerância com ameaças explícitas, abre espaço para a repetição de episódios autoritários. O Brasil só se protege desse risco mantendo memória, responsabilização e vigilância.