
Antes mesmo de instalada, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que pretende investigar as fraudes no INSS já se tornou palco de uma intensa disputa política entre governo e oposição. O motivo: quem controlar a presidência e a relatoria terá nas mãos o poder de definir o rumo das investigações — ou de neutralizá-las.
A ofensiva foi iniciada pela deputada Coronel Fernanda (PL-MT) e pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF), ambas figuras de destaque da direita bolsonarista. Com articulação rápida, conseguiram as assinaturas necessárias para protocolar o pedido. Nos bastidores, a estratégia era clara: usar o escândalo para desgastar o governo federal e reviver a pauta anticorrupção contra o PT.
Governo tentou barrar, mas agora quer controlar
Inicialmente, o Palácio do Planalto se movimentou para impedir a instalação da CPI. Avaliou que a comissão traria desgaste e abriria brechas para ataques à gestão do presidente Lula, especialmente em ano pré-eleitoral. A resistência, no entanto, enfraqueceu quando parlamentares da própria base assinaram o pedido.
A ordem, então, foi mudar de estratégia. Em vez de barrar a CPI, o governo agora atua para tentar controlar o colegiado por dentro. Nomes como o da deputada Tabata Amaral (PSB-SP) — do partido do vice-presidente Geraldo Alckmin — passaram a ser defendidos para relatoria. A intenção é clara: blindar o governo de investidas agressivas e manter a narrativa sob controle.
Presidência como trunfo para travar requerimentos
Além da relatoria, o Planalto também busca a presidência da comissão, posição com poder regimental para pautar ou engavetar requerimentos. A avaliação é de que, com esse controle, será possível filtrar convocações, evitar acareações constrangedoras e desidratar o alcance da CPI.
A aposta é repetir a lógica da CPI do 8 de Janeiro, quando os comandos foram divididos entre base e oposição. Naquela ocasião, o deputado Arthur Maia (União-BA), visto como nome de centro, presidiu o colegiado. A relatoria ficou com a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), aliada do governo.
Oposição cobra protagonismo e vê tentativa de sabotagem
Do outro lado, a oposição pressiona para garantir ao menos uma das duas cadeiras principais da comissão. O argumento é de que foram os partidos de oposição que articularam a criação da CPI. “A tradição da Casa reza que sim, talvez não os dois postos, mas um dos dois”, afirmou o senador Carlos Portinho (PL-RJ), líder do PL no Senado.
Portinho e o senador Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição, se reunirão ainda nesta semana para definir uma estratégia conjunta e tentar evitar que o governo assuma o controle político da investigação.
Instalação depende de Alcolumbre, que resiste à leitura
Apesar da movimentação intensa, a CPI ainda não saiu oficialmente do papel. Para que seja instalada, é necessário que o presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (União-AP) , leia o requerimento em plenário. Alcolumbre, aliado do governo, tem evitado marcar a leitura — mas a pressão cresce.
Fontes do Senado afirmam que, com a adesão do PT ao pedido e o aumento da cobrança pública, será difícil segurar a leitura por muito tempo. A expectativa é que ela ocorra até o fim do mês.
Composição sob disputa e acordos subterrâneos
A CPI deverá ter 32 titulares (16 senadores e 16 deputados), além de igual número de suplentes. Oficialmente, os nomes são definidos por votação, mas a prática é outra: acordos subterrâneos entre líderes partidários definem os membros e os postos-chave.
A composição do colegiado pode ser o fator decisivo para definir se a CPI será uma investigação robusta ou mais um teatro de versões. Até lá, o que se vê é uma guerra de bastidores em pleno andamento — onde o que menos importa, por enquanto, é a apuração das fraudes no INSS.