
Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitou as instalações da Fiat em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em um momento delicado para os funcionários da montadora.
A fusão entre a Fiat e a Peugeot, que deu origem à gigante Stellantis, tem impactado diretamente a rotina de trabalho, com denúncias de assédio moral e condições de trabalho cada vez mais desafiadoras.
Após a integração das duas fabricantes, muitos empregados da Fiat em Minas Gerais relataram um aumento significativo na pressão por metas, além de um tratamento desrespeitoso por parte da gestão e um aumento expressivo no número de acidentes de trabalho. A situação levou a um crescente número de demissões voluntárias, com funcionários buscando melhores condições em outros setores.
O Ministério Público do Trabalhoa (MPT) abriu três procedimentos investigatórios este ano, sob a responsabilidade dos procuradores Aurélio Agostinho e Victorio Álvaro Coutinho Rettori, para apurar as denúncias que envolvem a falta de respeito aos direitos trabalhistas e o assédio moral nas instalações da empresa.
Alterações na dinâmica de trabalho
Com a fusão que formou a Stellantis, houve mudanças significativas na estrutura das empresas e na dinâmica de trabalho.
A nova empresa, agora responsável por 14 marcas de veículos, incluindo Fiat, Peugeot, Jeep, Maserati, entre outras, trouxe um aumento nas demandas, com funcionários precisando atender a uma carga de trabalho maior e a desafios adicionais, como fusos horários internacionais.
“Antes, eu trabalhava apenas para a Fiat Brasil, agora atendo a demanda de outras fábricas ao redor do mundo. O número de empregados caiu drasticamente e, ao mesmo tempo, as responsabilidades aumentaram. A pressão por metas nunca foi tão intensa”, revelou um funcionário da Fiat, que preferiu manter o anonimato.
A situação tem gerado uma atmosfera de tensão, em que a falta de reconhecimento e as condições de trabalho precárias são temas recorrentes nos relatos dos colaboradores.
A junção entre PSA e Fiat-Chrysler, que formou a Stellantis, busca gerar economias de até 5 bilhões de euros por ano, mas, para muitos trabalhadores, os benefícios dessa sinergia ainda estão longe de serem perceptíveis.
Sindicato diz acompanhar os casos
O Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, que representa os empregados da Fiat na região, se posicionou publicamente sobre as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores.
Em nota, a entidade afirmou estar ciente dos desafios e reiterou seu compromisso com a defesa dos direitos trabalhistas.
“O Acordo Coletivo de Trabalho firmado entre o Sindicato e a Fiat prevê cláusulas robustas para garantir a proteção dos trabalhadores em relação às condições de trabalho mencionadas”, disse o sindicato, que também busca soluções para os problemas apresentados pelos empregados, tanto pelas vias administrativas quanto judiciais.
Assédio moral e a necessidade de respeito no ambiente de trabalho
O assédio moral, prática condenada por especialistas, tem sido uma das maiores preocupações para os trabalhadores da Fiat em Betim.
Diversos relatos apontam para um ambiente hostil, onde a pressão por resultados muitas vezes ultrapassa os limites do razoável, resultando em um estresse constante e um impacto negativo na saúde dos colaboradores.
“Os funcionários da Fiat em Minas Gerais merecem um ambiente de trabalho saudável, onde possam realizar suas funções com dignidade e respeito. É inadmissível que situações de assédio moral e exploração sejam toleradas”, afirmou um representante da área trabalhista.
O futuro da Stellantis e os impactos na força de trabalho
A fusão entre PSA e Fiat-Chrysler resultou na criação da Stellantis, agora a quarta maior montadora do mundo, com uma estimativa de 8 milhões de veículos vendidos por ano.
Entretanto, a sinergia que promete gerar economias substanciais também traz desafios como a queda nas vendas em alguns mercados e a necessidade de adaptação das fábricas à transição para a eletrificação dos veículos.
Embora países como França e Itália tenham elogiado a união e o governo italiano tenha até considerado a possibilidade de entrar no capital da empresa, a realidade enfrentada pelos trabalhadores em Minas Gerais levanta questões sérias sobre a implementação de mudanças sem o devido respeito aos direitos laborais.
Procurada, a montadora não se manifestou.