O Oscar acontecerá amanhã, e os jurados vão escolher os vencedores entre os indicados em diversas categorias. É curioso e ao mesmo tempo revelador observar como determinados grupos, que se autodenominam “patriotas” e empunham bandeiras de Deus, família e moralidade, se mobilizam com fervor contra uma possível premiação de  Ainda Estou Aqui.

 O filme, que retrata a morte do ex-deputado Rubens Paiva  durante a ditadura militar, não é apenas uma obra cinematográfica; é um ato de resistência contra o esquecimento e uma denúncia histórica sobre os horrores de um regime que ainda conta com defensores fervorosos. O filme foi indicado em três categoria do Oscar: Melhor Filme, Melhor Atriz e Filme Estrangeiro.

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Por que, afinal, uma obra que busca trazer à tona a verdade sobre um período tão sombrio da história nacional causa tanto desconforto? A resposta pode estar na função da arte como espelho – um reflexo que muitos preferem não encarar.

Ainda Estou Aqui, além de seu mérito artístico, resgata uma das inúmeras feridas abertas pela ditadura militar: o desaparecimento e a morte de opositores do regime, como Rubens Paiva. Sua narrativa não é apenas sobre o passado, mas também um alerta sobre como a negação da história pode perpetuar as práticas autoritárias. Nesse contexto, é compreensível que o filme incomode tanto os que insistem em reescrever ou apagar capítulos incômodos da memória nacional.

Os autointitulados patriotas, que hoje torcem contra o reconhecimento da obra, têm um papel paradoxal: ao mesmo tempo em que enaltecem a pátria e os símbolos nacionais, rejeitam a necessidade de revisitar e compreender criticamente o passado. Para eles, filmes como Ainda Estou Aqui representam uma ameaça porque desafiam narrativas convenientes que endeusam um regime autoritário em nome de uma suposta ordem.

A reação desses grupos é ainda mais contraditória quando lembramos que a liberdade de expressão, um dos pilares das democracias modernas, foi justamente aquilo que o regime militar tentou calar. Hoje, sob a bandeira de “Deus, família e pátria”, o que se observa é uma tentativa de silenciar vozes dissonantes e minimizar a importância de obras como essa, que trazem à luz os crimes de Estado.

No entanto, é justamente aí que reside a força do cinema e da arte: sua capacidade de romper bolhas ideológicas e expor verdades que muitos preferem ignorar. Ao torcer contra a premiação de Ainda Estou Aqui, esses grupos não apenas reafirmam sua aversão à memória histórica, mas também subestimam o poder transformador da cultura.

Premiar o filme seria mais do que um reconhecimento artístico; seria um recado claro de que a história não pode ser apagada e de que há espaço para revisitar o passado com coragem e honestidade. E, para os que torcem contra, fica o lembrete: a memória não pode ser calada, assim como a arte não pode ser censurada.


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